domingo, julho 17, 2011

"Viciados" em Facebook não conseguem excluir suas contas

"Viciados" em Facebook não conseguem excluir suas contas
Maioria dos usuários acaba retornando à rede social
Nova York, EUA. Apesar do crescente número de pessoas que usam o Facebook, existe também um outro tanto que quer deixar a rede social, mas não consegue. Alguns usuários excluem suas contas, mas acabam retornando, chegando a se declararem "viciados em Facebook".

O site hoje possui 600 milhões de usuários ativos e 550 grupos e páginas contendo palavras "Vício em Facebook" no título. A mais popular, "Eu sofro de Distúrbio do Vício em Facebook (FDA-Facebook Addiction Disorder)", tem quase 35 mil membros. Isso inclui algumas postagens como "a maioria de nós sofre..." ou uma foto de um felino preto esticado sobre o teclado e o título "Isso não é bom. Até o meu gato está viciado".

Existem páginas que também são dedicadas à desativação de contas, mas talvez elas não sejam numerosas porque os responsáveis por elas já deixaram o Facebook. A página "Eu Vou Desativar Minha Conta Hoje. Oh, Meu Deus!" tem somente 27 membros, enquanto "Como Ficaria Sua Vida se o Facebook Fosse Desativado por uma Semana?" tem 132. "Eu Acho que, Se Eu Desativasse o Facebook, Minha Vida Também Seria Desativada" tem 48 membros; em vez de uma foto de perfil, ela tem uma foto de uma seringa com Facebook escrito nela.

Uma rápida olhada no Google Trends, que rastreia nesse mecanismo de busca os termos mais procurados, mostra que "Vício em Facebook" tem aumentado constantemente desde o fim de 2008, quando apareceu na lista pela primeira vez. Agora aparece quatro vezes mais que naquela época. A expressão "desativando Facebook" apareceu no Google Trends um ano atrás e é buscada duas vezes mais que "Vício em Facebook".

Qualquer pessoa que quiser deixar o Facebook terminará em uma página que diz "Tem certeza de que quer desativar a sua conta?". Abaixo das perguntas, aparece a foto do usuário com diferentes amigos dizendo "... sentirei a sua falta". Pessoas que querem desativar o Facebook devem também fornecer uma razão para a saída em um menu de opções.

Morgan Waltrip, 23, não faz parte de nenhuma dessas páginas, embora ela tenha desativado e reativado a sua conta cerca de 30 vezes nos últimos seis anos. "Você se pega conferindo pessoas que você não quer ver", disse ela. "Quando eu saí, era como se a ignorância fosse uma bênção".

De vez em quando, porém, ela se sentia obrigada a reativar por algumas horas para ver "o que todo mundo estava fazendo". Ela agora está de volta ao Facebook, com relutância, com um perfil privado e usando seu nome do meio em vez do último. "Agora eu o controlo. Eu não vejo coisas que não me interessam", conta.

Brian Solis, blogueiro de mídia social, marqueteiro e autor, chama os usuários cíclicos de "super log-offs" (aqueles que ativam e apagam suas contas com frequência). "Existem indivíduos que percebem que precisam desativar para que tenham controle sobre ele novamente", diz Solis. "O ‘super log-off’ torna-se uma maneira de compartimentar a experiência. Você vai e volta à medida que achar necessário, em vez de ser dominado por ele", explica.

Michael Fenichel, psicólogo, autor e ex-presidente da Sociedade Internacional de Doença Mental Online, diz que esse comportamento de vai e volta ao Facebook geralmente se enquadra na categoria de distúrbios de controle de impulso. "É um lugar fácil para colocar o seu foco", acrescentando que ele vê o Facebook como "a experiência de indução ao vício mais eficaz
possível".


RECAÍDA
Maior dúvida é o "preço social" de não se estar conectado
Nova York. A ubiquidade do Facebook também pode influenciar as pessoas a deixarem o site. Ryan Beppel, um engenheiro de som de 23 anos, diz que não gostou da perda de privacidade que ele sentiu. "No início, eu estava desmarcando tudo, apagando todas as postagens no mural. Eu nem usei o Google por um tempo quando eu percebi que ele salvava minhas buscas", conta.

Ele desativou e reativou sua conta sete vezes, em parte porque algum dia deve querer concorrer a um cargo político. "Eu espero não voltar", ele diz. "Mas eu provavelmente voltarei", admite.

O ponto comum entre aqueles que saem e voltam ao Facebook várias vezes é a própria incerteza sobre o "preço social" de não fazer mais parte dele.


Corina Menagias, 19, diz que ela desativou sua conta com relutância por causa de pressão dos amigos. "Todo mundo ficava dizendo ‘Eu não consigo falar com você, você está fora do circuito’", conta. Corina Menagias diz que espera não reativar novamente, embora tenha ido despreparada a um evento em sua escola de cabeleireiro porque o convite foi enviado somente via Facebook. "Eu fui sem maquiagem e eu estava horrível. As pessoas agiam como se estivessem pensando, ‘ops, eu esqueci que você não tem Facebook’".

Tiffany Jung, 22, uma viciada confessa, desativou sua conta cinco vezes. "Eu completei uma sessão de Facebook de quatro horas de duração, me senti indignada comigo mesma e então desativei meu Facebook imediatamente", afirma. Ela diz que tudo depende de seu humor no momento. "Eu tenho certeza de que eu vou continuar entrando e saindo", conta.

O representante de serviço Stephen Widom desativou sua conta quatro vezes em um ano. "Eu volto a cada dois meses e imediatamente eu sinto os aspectos negativos de novo". Widom diz que a rede social estava começando a afetar a sua maneira de tomar decisões. "Eu estava fazendo as coisas com o Facebook em mente", ele diz. "Pensava: ‘oh, se eu fizesse isso, poderia publicar no Facebook e as pessoas iriam pensar que sou legal’". "Dessa vez", diz ele, "desisti de verdade". (AS/NYT)
Desativação. Página do Facebook onde as pessoas conseguem cancelar seu perfil


Pediatria
Alerta. Acrescente "depressão do Facebook" à lista dos possíveis danos relacionados às mídias sociais. Segundo pediatras dos EUA, a doença pode afetar adolescentes problemáticos que são obcecados pelo site.


ALYSIA SANTO
The New York Times

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