domingo, outubro 30, 2005

Memória em cubos...

Brasileiros desenvolvem material com enorme capacidade de armazenamento de dados

Um novo material para armazenamento de informações digitais que promete substituir os já quase antiquados DVDs e CDs (discos de gravação) está sendo desenvolvido no Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, por pesquisadores do Grupo de Materiais Fotônicos. Trata-se de um bloco de vidro composto por altas concentrações de óxido de tungsténio que realiza gravações em três dimensões, ao contrário dos discos, que trabalham apenas com duas.

Segundo os químicos Marcelo Nalin, pós-doutorando do Instituto de Física da Universidade de Campinas (Unicamp), e Gaël Poirier, pós-doutorando do Instituto de Química da Unesp, é difícil precisar a capacidade de armazenamento de informações do bloco de vidro, que depende da qualidade do equipamento utilizado na gravação e da modulação das propriedades ópticas do vidro. Porém, estima-se que o limite de armazenamento seja de 1,6 terabyte por cm3 (cerca de 1.600 gigabytes). Os DVDs mais avançados encontrados no mercado hoje conseguem guardar dados de 20 gigabytes, enquanto os CDs, apenas 700 megabytes.

O grupo de pesquisa pretende testar as gravações no vidro bruto e em forma de película fina (com nanômetros de espessura), para simular as películas de calcoge-neto (composto formado por elementos químicos classificados como calcogênios) normalmente utilizadas em CDs e DVDs. Dessa forma, os cientistas poderão verificar qual o modo mais eficiente de gravação. Isso está atualmen-te em estudo no Laboratório de Óptica do Instituto de Física da Unicamp em colaboração com a física Lucila Cescato.

O vidro de tungsténio também deverá ter utilidade em outras áreas da informática e da indústria eletrônica, assim como na fabricação de chips e memórias para computadores. Mas isso só ocorrerá se os estudos mostrarem que o material é compatível com outros aparelhos eletrônicos.

O químico Younès Messaddeq, coordenador da equipe da Unesp, afirma que, apesar de já existirem estudos na área em outros países, nenhum grupo chegou ao estágio avançado em que se encontra a pesquisa no Brasil. A empresa norte-americana Inpha-se Technologies prevê para este ano o lançamento de um vidro com capacidade aproximada de 200 gigabytes, mas ela emprega um processo de armazenamento holográfico que impede a regra-vação do vidro. Já as gravações no vidro de tungsténio, quando expostas a tratamento térmico ou à aplicação de determinados 7a-sers, podem ser apagadas e o material fica pronto para outra gravação.

Outra vantagem do vidro de tungsténio é seu baixo custo de produção. Ele é preparado a partir do mesmo processo de fabricação do vidro comum. Depois de misturar os elementos reagentes - óxido de tungsténio (WO3), po-lifosfato de sódio (NaPO3) e fluo-reto de bário (BaF2) -, eles são colocados em um recipiente de cerâmica que é levado ao forno para fusão. O líquido fundido é vertido em um molde metálico com a forma desejada. Após a sintetização do vidro, a amostra passa por um recozimento de quatro horas, seguido por um resfriamento gradual até atingir a temperatura ambiente. Finalmente, a superfície do vidro é polida para melhorar sua qualidade óptica.

Rara realizar gravação de imagens, aplica-se um laser ao vidro de tungsténio, que é fotossensível e muda de cor após a gravação. Devem ser utilizados lasers ultravioleta para as gravações superficiais, ou lasers cujo comprimento de onda seja de 488 ou 514 nanômetros para gravações de imagens em duas dimensões, que se prolongam para uma terceira dimensão. Este último laser foi utilizado pelo grupo da Unesp para a gravação da imagem do físico alemão Albert Einstein em um vidro, com o auxílio de um programa de computador.

Os pesquisadores já obtiveram a patente para o vidro de tungsténio no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (ENPI) e, em um ano, ela poderá ser solicitada no resto do mundo. No momento, os pesquisadores buscam um parceiro para viabilizar a continuação do trabalho e a comercialização do produto, que poderia ocorrer em cinco anos, segundo Nalin.

Júlio Molica

Ciência Hoje /RJ (setembro de 2005 • CIÊNCIA HOJE VOl. 37 • n2 119 )

O Impacto desse mecanismo de memória no registro da informação certamente afetara o modo como guardamos a informação e como ela vai ser indexada, a evolução dos suportes e manejo de seus pocessos, constitui um novo campo de investigação como indica a pesquisa da área de química da UNESP de Araraquara. Héberlee.

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