domingo, dezembro 18, 2005

Tevê digital

Atração: o ministro Hélio Costa (acima) durante apresentação do Torcida virtual, no qual o telespectador escolhe em qual arquibancada vai se sentar e ainda pode ouvir a gritaria dos amigos distantes

Cenas do próximo capítulo
Em breve no seu televisor, o simulador de estádio
e um programa que diagnostica a depressão
Darlene Menconi

Assistir à final de um jogo de futebol pela tevê
não tem a mesma graça que ir a um estádio.
Ainda mais para quem costuma ver seu time
na companhia de amigos barulhentos.
O paraibano Guido Lemos sabe disso.
Tanto é que passou as últimas três semanas
sem dormir nem comer direito para finalizar
os detalhes do Torcida virtual, um programa
de televisão criado para demonstrar que na
tevê digital tudo pode ser diferente.

Desenvolvido pela equipe que Lemos coordena
na Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
o protótipo simula um estádio de futebol.
Só que é o próprio telespectador quem escolhe
o ângulo de visão e o som da torcida que deseja ouvir.
Com o controle remoto nas mãos, ele seleciona a
cadeira onde vai se sentar, se na arquibancada
do Flamengo ou na do Fluminense, por exemplo.

A grande novidade, porém, é um microfone
instalado no terminal de acesso – aparelho parecido
com o decodificador de tevê a cabo, que
faz a transição da tevê analógica para a digital.
Basta escolher a cadeira vizinha à de um amigo
para ouvir pelo alto-falante da tevê tudo
o que ele falar durante o jogo, mesmo que
cada um esteja em uma cidade diferente.
“É como ir para o campo com um rádio de pilha”,
compara Lemos. Programas como o Torcida virtual,
em que o telespectador tem maior interferência
na programação, serão testados durante
os jogos da Copa do Mundo e os desfiles de Carnaval.

Enquete: com o controle remoto nas mãos, será possível votar sem sair de casa

Assim como ocorre na internet,
a experiência de ver tevê tende a
ficar muito menos passiva. Na
prática, a transmissão digital vai
além da imagem e do som com qualidade
superior à de um DVD. Para demonstrar
o potencial do mundo virtual, 1.300 cientistas
de 22 consórcios de pesquisa formados
por 79 universidades criaram protótipos que
vão de um museu virtual, em que o telespectador
visita a sala de exibição como se fosse um
videogame, até programas de votação que
tanto poderiam servir para eliminar um
concorrente do Big Brother quanto para
aprovar ou não um referendo como o das armas.

Para exibir suas invenções ao ministro
das Comunicações, Hélio Costa, os cientistas
brasileiros reuniram uma dezena de protótipos.
Mostraram o Jangada, da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), que
transforma a tevê em um computador para
navegar na internet e enviar e-mails sem
sair do sofá. Ou ainda o Viva mais!, um programa
de auditório feito pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) para
diagnosticar pessoas com depressão a partir
de cinco perguntas sobre sono, apetite e
aptidão física. Todo o contato com o telespectador
é feito através do controle remoto.

Saúde – “Há uma infinidade de coisas
relacionadas à saúde que podemos
fazer usando a tevê digital”, diz o neurologista
Renato Sabbatini, presidente
do Instituto para a Educação em Medicina e Saúde.
Afinal, nove em cada dez residências espalhadas
pelos 5.500 municípios do País têm pelo menos
um televisor. Todos os anos, são fabricados
outros dez milhões de televisores, que
duram em média 14 anos.

“Sabemos fazer bons produtos, falta o
governo criar uma política industrial que
incentive o progresso da tevê digital”,
diz Marcelo Zuffo, responsável pelo
terminal de acesso, que possibilita que
mesmo os aparelhos antigos entrem no mundo
digital. Marcada para estrear em 7 de setembro,
a tevê digital ainda deve vencer etapas difíceis,
como a escolha do padrão de transmissão de imagens.
Hoje há quatro disponíveis: o brasileiro,
o japonês, o americano e o europeu.
Em comum, eles têm a capacidade de
transmitir imagens para tevês de alta
definição e celulares. Além de abrir as
portas para um mundo onde a imaginação é o limite.

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