segunda-feira, fevereiro 01, 2016

efeito colateral do excesso de informação

Na era da informação  informação é poder,  sua ausência 
pode ser sintoma de ignorância.
Hoje com a oferta quase exponencial dela isso começa a 
causar efeitos em nossa vida e psique.  Héberle



INFORMAÇÃO EM EXCESSO, DECISÕES EM EXCESSO

A história íntima da sobrecarga cognitiva

(...)

A geração passada testemunhou uma explosão de opções apresentadas aos consumidores. 
Em 1976, um supermercado médio tinha 9 mil produtos distintos; hoje esse número inflou 
para 40 mil, embora uma pessoa comum satisfaça de 80% a 85% de suas necessidades num 
universo de apenas 150 artigos.3 Isso significa que precisamos ignorar 39 850 artigos em 
estoque.4 E estamos falando apenas de supermercados — estima-se que exista hoje mais 
de 1 milhão de produtos nos Estados Unidos (cálculo baseado nas unidades de 
manutenção de estoque, queles pequenos códigos de barras nos produtos que 
compramos).5

Todo esse processo de ignorar e optar tem um custo. Os neurocientistas descobriram que 
a falta de produtividade e de motivação pode ser resultado da sobrecarga de decisões. 
Embora a maioria de nós não tenha dificuldade em relativizar a importância das decisões, 
o cérebro não faz isso automaticamente. Ioana sabia que era mais importante 
acompanhar os estudos do que escolher a caneta que compraria, mas a simples situação 
de lidar com tantas decisões triviais na vida cotidiana criou uma fadiga neuronal que não 
deixou nenhuma energia de sobra para as decisões importantes. Pesquisas recentes 
mostraram que pessoas obrigadas a tomar uma série de decisões exatamente deste tipo — 
por exemplo, escrever com uma caneta de ponta de feltro ou esferográfica — 
demonstram uma piora no controle dos impulsos e um decréscimo do bom senso em 
relação a decisões 
subsequentes.6

É como se nosso cérebro fosse configurado para tomar um determinado número de 
decisões por dia, e, chegando a este limite, não pudéssemos decidir qualquer outra coisa, 
a despeito da sua importância. Uma das mais úteis e recentes descobertas da 
neurociência pode ser assim resumida: no nosso cérebro, a rede de tomada de decisões 
não determina prioridades.
Hoje nos defrontamos com uma quantidade inacreditável de informações, e cada um de 
nós gera mais informação do que nunca na história da humanidade. O ex-cientista da 
Boeing e articulista do New York Times, Dennis Overbye, comenta que esse fluxo de 
informação contém “cada vez mais informações sobre nossas vidas — onde fazemos 
compras e o que compramos, e, na verdade, onde nos encontramos neste exato instante 
—, a economia, os genomas de incontáveis organismos que nem sequer conseguimos 
nomear, galáxias cheias de incontáveis estrelas, engarrafamentos em Cingapura e o 
tempo em Marte”. E essas informações “jorram cada vez mais depressa em computadores 
cada vez mais potentes, chegando até as pontas dos dedos de todas as pessoas, que hoje 
dispõem de máquinas com poder de processamento maior do que o controle da Missão 
Apolo”.7

Os cientistas da informação quantificaram tudo isso: em 2011, os americanos receberam 
cotidianamente cinco vezes mais informação do que em 1986 — o equivalente a 175 
jornais.8

Durante nosso tempo ocioso, excluindo o trabalho, cada um de nós processa 34 gigabytes 
ou 100 mil palavras por dia.9

As 21.274 estações de tv do mundo produzem 85 mil horas de programação original 
diariamente, enquanto assistimos a uma média de cinco horas de televisão por dia, o 
equivalente a 20 gigabytes de imagens de áudio-vídeo.10 Isso sem contar o YouTube, que 
faz um upload de 6 mil horas de vídeo a cada hora.11 E os jogos no computador? Eles 
consomem mais bytes do que todo o resto da mídia junto, inclusive dvds, tv, livros, 
revistas e a internet.12

Só a tentativa de manter organizados os nossos arquivos eletrônicos e de mídia pode ser 
agonizante. Cada um de nós possui o equivalente a mais de meio milhão de livros 
armazenado em nossos computadores, sem falar em toda a informação guardada em 
nossos celulares ou na fita magnética no verso de nossos cartões de crédito. Criamos um 
mundo que possui 300 hexa bytes (300 000 000 000 000 000 000 itens) de informação 
produzida pelo homem. Se cada um desses itens de informação fosse escrito em fichas 3 
×  5, postas lado a lado, apenas a parte que cabe a uma pessoa — a sua parte dessa 
informação — cobriria cada centímetro quadrado de um país como a Suíça.

Nossos cérebros possuem, sim, a capacidade de processar a informação que recebemos, 
mas a um custo: podemos ter dificuldade em separar o trivial do importante, e processar 
toda essa informação cansa. Os neurônios são células vivas que possuem um metabolismo; 
precisam de oxigênio e glicose para sobreviver, e, quando muito exigidos, o resultado é 
que sentimos cansaço. Cada atualização de status que você lê no Facebook, cada tuíte ou 
mensagem de texto que recebe de um amigo compete no seu cérebro por recursos para 
lidar com coisas importantes, como resolver se vai investir sua poupança em ações ou 
títulos, descobrir onde deixou o passaporte ou qual a melhor maneira de se reconciliar 
com um grande amigo com o qual você acabou de ter um desentendimento.

(...)
Muitos casos de perda de chaves do carro, passaportes, dinheiro, recibos e assim por 
diante ocorre porque nossos sistemas de atenção estão sobrecarregados e simplesmente 
não conseguem dar conta de tudo. O americano comum possui milhares de vezes mais 
pertences do que o caçador-coletor comum. Num sentido verdadeiramente biológico, 
temos de controlar mais coisas do que aquilo que nosso cérebro foi projetado para 
controlar. Até eminentes intelectuais como Kant e Wordsworth reclamavam do excesso de 
informação e da absoluta exaustão mental induzidos por absorção sensorial em demasia 
ou sobrecarga mental.18 Contudo, não há motivo para perder a esperança! Mais do que 
nunca há sistemas externos eficazes, disponíveis para organizar, categorizar e controlar as 
coisas. No passado, a única opção era uma série de assistentes humanos. Mas agora, na 
era da automação, existem outras opções. A primeira parte deste livro é sobre a biologia 
subjacente ao uso desses sistemas externos. A segunda e terceira parte mostram como 
podemos utilizá-los para controlar nossas vidas, ser eficientes, produtivos, felizes e 
menos estressados num mundo interligado, cada vez mais cheio de distrações.

A produtividade e a eficiência dependem de sistemas que nos ajudem a organizar as 
coisas por meio da categorização. O impulso de categorização evoluiu pelas conexões pré-
históricas nos nossos cérebros até sistemas neuronais especializados que criam e 
preservam amálgamas coerentes e significativos de coisas — alimentos, animais, 
ferramentas, membros da tribo —, enfeixando-as em categorias coerentes. No fundo, a 
categorização reduz o esforço mental e simplifica o fluxo de informação.19 Não somos a 
primeira geração de seres humanos a reclamar do excesso de informação.

(...)

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A sobrecarga de informação, antes e hoje

(...)
Se temos um filtro de atenção tão eficaz, por que não conseguimos bloquear distrações 
de maneira mais eficiente? Por que a sobrecarga de informação representa tamanho 
problema agora?
Por um lado, hoje em dia trabalhamos mais do que nunca. A promessa de uma sociedade 
computadorizada, nos diziam, era a de que todo o trabalho chato e repetitivo seria 
relegado às máquinas, permitindo que os humanos perseguissem suas metas mais 
elevadas  e gozassem de mais lazer. Mas não funcionou assim. Em vez de dispor de mais 
tempo, a  maioria de nós dispõe de menos. As grandes e pequenas empresas empurraram o trabalho 
para cima dos consumidores. As coisas que costumavam ser feitas para nós, como parte 
do benefício de trabalhar com uma empresa, agora somos nós mesmos que temos que 
fazer. 
Nas viagens aéreas, hoje exigem que nós mesmos façamos nossas próprias reservas e 
check-in, tarefas que costumavam ser feitas pelas companhias aéreas ou os agentes de 
viagens. No supermercado, exigem que nós mesmos empacotemos as compras. Algumas 
empresas deixaram de nos mandar faturas de serviço — esperam que entremos no site 
delas, encontremos nossa conta e iniciemos um pagamento eletrônico: na verdade, que 
façamos o trabalho para a própria empresa. Coletivamente, isso é conhecido como 
trabalho à sombra — representa uma espécie de economia paralela, na qual boa parte do 
serviço que esperávamos receber das empresas foi transferida para o cliente.48 Cada um 
de nós está fazendo o trabalho de outras pessoas, sem ser remunerado. Isso é responsável 
por tirar de nós muito tempo do lazer que todos achávamos que teríamos no século XXI.


Além de trabalhar mais, lidamos com mais mudanças na tecnologia da informação do que 
nossos pais, e mais como adultos do que quando éramos crianças. O americano comum 
substitui o celular a cada dois anos, e isso muitas vezes significa ter que lidar com um 
novo software, novas teclas, novos menus.49 Trocamos o sistema operacional de nossos 
computadores a cada três anos, e isso requer o aprendizado de novos ícones e 
procedimentos, e de novas posições para os velhos itens do menu.50

Mas, acima de tudo, como diz Dennis Overbye, “desde os engarrafamentos em Cingapura 
ao tempo em Marte”, recebemos uma quantidade muito maior de informação. A 
economia global significa que estamos expostos a uma quantidade enorme de informação 
a que nossos avós não estavam. Ouvimos falar de revoluções e problemas econômicos de 
países a meio mundo de distância, no momento em que estão acontecendo; vemos 
imagens de lugares que jamais visitamos e ouvimos idiomas que nunca ouvimos antes. 
Nossos  cérebros absorvem avidamente tudo isso porque é para isso que foram 
projetados, mas, ao mesmo tempo, todo esse negócio está competindo por recursos 
neuronais de atenção dirigidos às  coisas que precisamos saber para tocar nossas vidas.
Há uma evidência crescente de que abraçar novas ideias e novos aprendizados nos ajuda 
a  viver mais e a evitar o mal de Alzheimer — além das vantagens tradicionalmente 
associadas à expansão de nosso saber. Por isso o problema não é absorver menos 
informação, e sim ter sistemas para organizá-la.
A informação sempre foi o recurso-chave de nossas vidas. Permitiu-nos aperfeiçoar a 
sociedade, a assistência médica, as tomadas de decisão, a gozar de crescimento 
econômico e pessoal, e escolher melhor nossos funcionários públicos eleitos.51 Mas trata-
se também de um recurso cuja aquisição e o funcionamento têm um custo bastante alto. 
À medida que o conhecimento se tornou mais disponível — e descentralizado via internet 
—, as noções de autenticidade e de autoridade foram se tornando cada vez menos 
transparentes. Temos acesso mais fácil do que nunca a pontos de vista conflitantes, 
muitas vezes disseminados por gente despida de qualquer respeito pelos fatos ou pela 
verdade. Muita gente não sabe mais em que acreditar, o que é verdade, o que foi 
alterado e o que passou por um crivo criterioso. Não temos tempo nem conhecimento 
para pesquisar sobre cada pequena decisão. Em vez disso, dependemos de autoridades 
confiáveis, jornais, rádio, tv, livros, às vezes o cunhado, o vizinho perfeito, o taxista que 
nos deixou no aeroporto, nossa memória ou alguma experiência do tipo... às vezes essas 
autoridades merecem confiança, às vezes não.
(...)
Uma affordance gibsoniana descreve um objeto cujo feitio, de certo modo, indica ou 
fornece a informação sobre a maneira de utilizá-lo.
(...)
É por isso que os ganchos para chaves funcionam. Controlar as coisas que você perde com 
frequência, como chave do carro, óculos e até carteira, envolve a criação de affordances 
(formas que proporcionam o uso desejado) que reduzam o fardo de seu cérebro 
consciente. Nesta época de sobrecarga de informação, é importante conquistarmos o 
controle do ambiente e alavancarmos nosso conhecimento sobre o funcionamento 
cerebral. A mente organizada cria affordances e categorias que permitem uma navegação 
com pouco esforço no mundo de chaves de carro, celulares e centenas de detalhes 
diários, ajudando-nos também a abrir caminho no mundo das ideias do século xxi.
Trechos acimas extraídos de: A mente organizada: como pensar com clareza na era da sobrecarga de informação

Leia um trecho do livro em PDF 

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