terça-feira, março 01, 2016

Juros negativos desafiam a lógica do sistema financeiro


Investidores preocupados com os impactos negativos do dinheiro superbarato sobre bancos e mercados globais podem precisar se preparar para juros abaixo de zero em economias ao redor do mundo. O alerta foi dado por economistas do JP Morgan frente à reviravolta que marcou o mercado internacional nos primeiros dias de 2016. Nova turbulência na China, a queda do preço do petróleo para menos de US$ 30 e a apreciação de diversas moedas frente ao dólar mexeram com as bolsas e renovaram temores sobre o crescimento global.
A resposta das autoridades foi numa direção que parecia ter ficado para trás, com políticas monetárias cada vez mais expansionistas, o que levou o planeta a uma situação pouco usual de ter vários países ricos praticando juros negativos em muitos de seus títulos de dívida pública. Ou seja, o investidor que emprestar dinheiro a esses governos receberá no futuro menos do que aplicou. Este ano, pela primeira vez na História, um título de longo prazo de um país do G-7 ofereceu rentabilidade negativa: os bônus de 10 anos do governo japonês foram negociados por -0,035%.
Os juros negativos se tornaram uma possibilidade "colocada à mesa" para os Estados Unidos, segundo Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano). Trata-se de uma medida heterodoxa (alguns consideram desesperada) e sem nenhuma garantia de que vai dar certo. Foi usada no passado, com certo sucesso, para defender as moedas de países como Suíça, Suécia e Dinamarca de uma valorização indesejada.
Dos Estados Unidos à Austrália, passando pelo Canadá, os países ricos que ainda têm juros no terreno positivo estão recorrendo a novos estímulos monetários ou adiando a elevação de suas taxas. "Há uma nova onda expansionista. Quando o Federal Reserve aumentou os juros, parecia o início da reversão da era do dinheiro barato no mundo, mas parece que essa era pode ter sobrevida", afirma o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, responsável por acompanhar a economia internacional.
A situação levou o mundo financeiro ao território do desconhecido. As implicações práticas vão desde o redesenho de planilhas e alteração nos contratos jurídicos até ajustes nos computadores, que foram comparados ao período conhecido como do bug do milênio. À época, temia-se uma pane nos computadores na virada para o ano 2000 - que acabou não se confirmando. Os bancos relutam em repassar aos clientes o custo que têm quando deixam o dinheiro que não foi emprestado depositado no Banco Central - o juro negativo incide na transação entre as instituições financeiras e a autoridade monetária.

A orientação é manter remuneração zero para contas-correntes e de poupança, mas adotar tarifas de serviço que compensem esse custo adicional. Os piores efeitos colaterais conhecidos, até o momento, são a sobrevalorização dos imóveis em Estocolmo e em Copenhague.

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