terça-feira, agosto 30, 2011

LIVRARIAS DOS EUA LUTAM PARA SOBREVIVER


LIVRARIAS DOS EUA LUTAM PARA SOBREVIVER

Na concorrência com a venda de livros pela internet, duas das principais livrarias americanas anunciam fechamento de lojas físicas e até concordata

As duas maiores livrarias dos Estados Unidos lutam para sobreviver. A Borders decretou concordata na semana passada, fechou 200 de suas lojas, demitiu um terço dos funcionários e está em estado terminal. A concorrente Barnes&Noble também corre o risco de seguir o mesmo caminho.
O consumo de livros nos EUA se dá principalmente por meio da internet, com o crescimento na venda das versões virtuais das publicações, enquanto as impressas perdem mercado, especialmente nas lojas. Já há quem enxergue um futuro próximo no qual as livrarias desaparecerão de muitas cidades americanas. Até Nova York vê as suas lojas de livros fecharem as portas.
No início de janeiro, um funcionário da Barnes&Noble anunciou pelo alto falante o fim da filial do Lincoln Center. 


"Obrigado a todos os clientes pelos últimos 15 anos. São oito horas e esta Barnes&Noble está fechando para sempre", afirmou, em meio a vaias dos clientes. 
Na semana passada, foi a vez da Borders. Entre as 200 megastores com as atividades encerradas, estão a da sede, em Ann Harbor (Michigan), e quatro de suas filiais em Manhattan.
Ao anunciar a concordata, o presidente da Borders, Mike Edwards, afirmou que sua empresa 


"não tem os recursos financeiros para se manter como um competidor viável ". As dívidas, estimadas em US$ 1,29 bilhão, superam o patrimônio desta rede de livrarias fundada em 1971.
Na rival Barnes&Noble do Lincoln Center, clientes lamentavam o fechamento, que foi encarado como um funeral.  "Vinha aqui todos os dias ver os lançamentos, ler as revistas. Mas devo admitir que não comprava mais livros ", disse um músico do bairro que visitava a loja todos os dias. Era comum ver a loja lotada e as filas curtas. Um vendedor de livros usados a um quarteirão de distância ironizava que seus negócios andavam  "melhor " do que o da gigantesca vizinha, com seus quatro andares de estantes.
Consumidores levaram câmeras e ficaram até o último minuto para registrar o fim de uma livraria que era um dos símbolos do Upper West Side, um dos bairros mais intelectualizados de Nova York. Seria como se a Livraria Cultura fechasse para os moradores dos Jardins, ou a Livraria da Vila para os da Vila Madalena. Durante anos, era comum aos habitantes do bairro saírem de um dos cinemas da região para comprar um livro na Barnes&Noble. Ou então para passar o tempo antes de ir à Ópera, à Filarmônica ou ao Ballet, no Lincoln Center.
O cenário é parecido com o das lojas de CD e das locadoras de vídeo. Em cidades como Nova York existe o temor de que a Barnes&Noble e a Borders cedam lugar às farmácias e lojas de departamento, como ocorreu com a Virgin e a Blockbuster. Inclusive, no lugar da Barnes&Noble do Lincoln Center, será aberta uma Century 21, que vende roupas a preços baixos. O irônico é que as mega livrarias foram, no passado, consideradas culpadas pelo fechamento de outras menores. O filme You´ve got mail (Mensagem para você, em português), com Meg Ryan, registrou justamente o momento em que as gigantes Barnes&Noble e Borders levavam à falência pequenas livrarias.
Quatro fatores contribuem para o enfraquecimento das livrarias nos EUA. O primeiro deles é a difusão de e-readers como o Kindle e o iPad. Segundo a Amazon, são vendidos 115 livros virtuais para cada 110 impressos - a empresa não divulga os valores brutos, apenas a relação entre os dois.
Segundo a Association of American Publishers, que reúne as principais editoras dos EUA, a venda de livros virtuais para e-readers cresceu 164,8% (em valores anualizados) em dezembro de 2010, quando comparado ao mesmo mês no ano anterior, e já representa mais de 8,34% do mercado de livros -, mais do que o dobro em relação a 2009. Em 2002, era apenas 0,05% do total. A tendência, segundo a entidade, é de um crescimento maior com a proliferação de computadores, tablets e e-readers mais avançados. Já o faturamento com livros físicos teve seu pior resultado desde 2004 - levando em conta que os EUA estavam em recessão em 2008 e 2009.
O segundo fator que tem afetado as livrarias é a venda de livros impressos pela internet. Em vez de ir até uma loja comprar um título, consumidores passaram a encomendá-los nos sites como o da Amazon e da própria Barnes&Noble. Lamentando e admitindo essa tendência, o escritor e crítico literário Scott Eyman afirmou que  "nunca foi difícil comprar um livro que já queríamos, e agora está ainda mais fácil e mais barato. Mas será cada vez mais complicado comprar um livro que não sabíamos que queríamos até nos depararmos com ele. E esta sempre foi a função da livraria, que te permitia descobri-los. "
A entrada de hipermercados como o Wall Mart no mercado de livros também foi um duro golpe na Barnes&Noble e na Borders, e seria o terceiro fator responsável pelo fim das livrarias. Com foco em best sellers e vendas por meio da internet, o gigante varejista tem conseguido roubar o mercado não apenas das livrarias como também da própria Amazon. O quarto e último responsável pela má situação das livrarias é a administração.

Publicado em: 11/03/2011

http://www.aber.org.br/noticia.php?IdNoticia=2429
fonte: 

segunda-feira, agosto 29, 2011

Nasce primeiro supercomputador com memória sólida


Um pouco de informação: memória desenvolvida em flash poderá se assemelhar, com aspectos da "introspectividade" humana.
A Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, anunciou a construção do primeiro supercomputador a usar a tecnologia de armazenamento de estado sólido.
O supercomputador Gordon será o primeiro a usar cartões SSD de memória de forma intensiva para atender a necessidades de armazenamento de dados.
Essas memórias tipo flash são chamadas de memória de estado sólido, em contraposição aos discos rígidos, o meio de armazenamento usado pelos supercomputadores atuais.
Os 64 nós de entrada e saída começaram a ser instalados nesta semana. O supercomputador deverá começar a funcionar em Janeiro de 2012.
"Mover uma cabeça de leitura física para fazer uma operação de entrada e saída é muito 'século passado'," esnoba Allan Snavely, coordenador do projeto. "De fato, Charles Babbage projetou um computador baseado em partes mecânicas móveis quase dois séculos atrás. É hora de parar de mover prótons e movimentar apenas elétrons."
Supercomputador sólido
Com 256 terabytes de memória flash, o supercomputador Gordon será voltado para aplicações intensivas em bases de dados, alcançando velocidades nas consultas até 100 vezes maiores em comparação com sistemas de discos rígidos.
Os 1024 nós do supercomputador serão agrupados em 32 "supernós", com 64 gigabytes de DRAM e capacidade de 195 gigaflops por nó.
Um supernó também incorpora 2 nós de entrada e saída, cada um com 4 TB de memória flash.
Quando interligados por uma memória virtual compartilhada, cada um dos 32 supernós terá um potencial superior a 6 teraflops de processamento e 10 terabytes de memória (2 TB de DRAM e 8 TB de memória flash).
O pico de desempenho esperado é de 7,7 teraflops por supernós e de 245 teraflops para o sistema todo.
Mas o supercomputador Gordon terá também à sua disposição, além dos 256 terabytes de memória sólida, 4 petabytes de discos rígidos, mostrando que, apesar do discurso, os velhos e bons HDs ainda não estão assim tão fora de moda.
Durabilidade das memórias flash
As memórias flash já são dominantes entre os equipamentos portáteis, mas esta é a primeira vez que se construirá um supercomputador inteiramente baseado nessa tecnologia.
Embora seja barata e robusta para aplicações pessoais, as memórias flash ainda não haviam atingido uma durabilidade suficiente para aplicações de computação de alto desempenho, que exigem um número de ciclos de leitura e escrita muito superior.
Uma memória flash da categoria consumidor precisa suportar 3.000 ciclos de escrita e apagamento - a maioria dos equipamentos eletrônicos deixa de ser usada antes disso.
Uma memória flash de categoria empresarial, por outro lado, precisa ter uma durabilidade pelo menos 10 vezes maior. Elas já existem no mercado, mas, até há pouco tempo, custavam caro demais.

Formação ou deformação de leitores?


Formação ou deformação de leitores?

PublishNews - 29/08/2011 - Maria Fernanda Rodrigues
Alberto Manguel não gostou do discurso da editora britânica Kate Wilson e os dois discutiram energeticamente sobre como formar leitores


Fotógrafo: Tiago Lermen
Tudo ia bem em um dos debates mais aguardados da Jornada Nacional de Literatura – A formação do leitor contemporâneo, na tarde de sexta-feira, dia 26, quando o até então tranquilo Alberto Manguel pediu o microfone de volta para criticar o que a editora Kate Wilson, 25 anos de experiência em edição de livros infantis, acabara de falar. Depois de apresentar pesquisas como a que diz que só 14% das crianças entre quatro e cinco anos sabem amarrar o sapato, mas que 21% delas podem operar um aplicativo em smartphone (no caso dos EUA, sobe para 30%) e de contar quais são os novos desafios do editor, ela apresentou o aplicativo do livro Cinderela desenvolvido por sua editora, a recém-criada Nosy Crow, que publica títulos infantis nos formatos impresso, e-book e aplicativo. Foi muito aplaudida pela plateia atenta.
 
Foi nessa hora que o escritor argentino se exaltou e disse: “Eu não sabia que faria parte dessa discussão a deformação do leitor defendida com argumentos comerciais, de vender este ou aquele produto. O livro não é um produto comercial. É nocivo que uma crianças de três ou quatro anos seja introduzida à leitura dessa forma, aprendendo a ler na tela. Aprender a ler é outra coisa”. Foi muito aplaudido. Kate respondeu: “Não me importo com o que as pessoas leiam, mas quero que elas leiam. A pior coisa seria as crianças pararem de ler.” Foi muito aplaudida de novo.
 
Em defesa da tecnologia, Kate disse: “Tecnologia não é literatura e não há motivo para se opor. Mas a tecnologia tem sim a possibilidade de tornar a leitura mais acessível a mais pessoas”. A preocupação de Manguel é que com o desenvolvimento dessas plataformas para o livro infantil as crianças passem a ser tratadas como “estúpidas”. “A primeira coisa é reconhecer a inteligência com a qual viemos ao mundo e exercitá-la. Devemos alimentar sonhos com inteligência e não com boberinhas”, comentou o escritor argentino.
 
“A tecnologia não pensa sozinha; as escolhas são nossas”, rebateu Kate Wilson. E disse mais: “O que o torna um bom leitor é a prática. Desde que você comece tem a oportunidade de se tornar um leitor voraz”.
 
A história foi longe, e Beatriz Sarlo, a crítica argentina que tirou o sono da coordenadora Tania Rösing durante os três anos de negociações para que sua vinda a Passo Fundo se concretizasse, até saiu do centro do debate. Affonso Romano de Sant’Anna também participou do encontro mediado por Fabiano dos Santos, diretor do Livro, Leitura e Literatura do MinC.
 
Kate, que ainda está no Brasil se reunindo com editores para apresentar seus produtos, escreveu sobre o episódio no blog da Nosy Crow.

domingo, agosto 21, 2011

públique


A vez dos artigos - SABINE RIGHETTI

Publicar em revistas científicas pesa tanto que já substitui as teses em cursos de pós-graduação
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Os periódicos científicos, onde pesquisadores publicam seus estudos, têm ganhado em importância. A tal ponto que, no Brasil, seguindo países como Holanda e EUA, alguns programas de pós-graduação já substituem a obrigação de escrever uma tese por artigos científicos.
O aluno pode defender, em banca, três trabalhos publicados ou aceitos para publicação em revistas científicas. Pelo menos dois deles devem estar em periódicos de "alto impacto", ou seja, aqueles que são muito citados por pesquisadores.
A substituição da tese pelos artigos é feita com aval da Capes (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que avalia a pós-graduação no país.
No Instituto de Biociências da USP, por exemplo, os alunos podem escolher entre a tese "padrão" ou os artigos.
"Ninguém lê tese, a não ser os membros da banca. Se o trabalho não for publicado, vai ficar jogado numa biblioteca", diz a geneticista Mayana Zatz, uma das entusiastas do formato. "Juntar papers já publicados é o melhor que pode ser feito. Na Holanda, eles já fazem isto há muito tempo", afirma.
"A publicação prévia é importante, mas não podemos deixar nas mãos das revistas a titulação dos alunos. A defesa da tese tem de ser mantida", alerta Rogério Meneghini, coordenador científico do Projeto SciELO, que reúne publicações da América Latina com acesso livre.
Além de disseminar as informações acadêmicas mais facilmente, os artigos dão mais visibilidade à produção científica do país. Hoje, o Brasil está em 13º lugar no mundo em quantidade de artigos publicados.

MAIS RANKINGS
Mas os artigos não podem ser publicados em quaisquer revistas. Gestores têm criado rankings de periódicos para classificá-las.
No Brasil, o Qualis, da Capes, cumpre esse papel e classifica, por área de conhecimento, cerca de 17 mil títulos. Quem publicar mais nos melhores periódicos, ganha nota mais alta. E quem tiver as notas mais altas, recebe mais recursos, como bolsas.
A ligação direta entre a publicação de artigos e distribuição do dinheiro público para ciência tem tirado o sono dos pesquisadores, principalmente daqueles cujas revistas correspondentes à sua área não estão no topo.
"No meu campo de estudo, administração de empresas, o ranking não reflete a realidade", diz Ross Thomas, editor do "Journal of Educational Administration" e professor da Universidade de Wollongong, na Austrália.
Naquele país, o governo distribui R$ 2,8 bilhões para pesquisas de acordo com a "qualidade" da revista em que os trabalhos são publicados. Como não ocupa os primeiros lugares no ranking, que reúne 22 mil revistas do país, a área de Thomas fica com uma fatia pequena.
É isso também que acontece com as ciências humanas, cuja produção aparece mais em livros do que nas revistas. "É preciso adequar a metodologia [de avaliação] para essa área", diz Isidro Aguillo, do Laboratório Cybermetrics, do CSIC (Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha).
A distribuição de recursos de acordo com as áreas que mais publicam causa o que a sociologia da ciência chama "efeito Mateus". O nome é uma alusão à passagem bíblica que diz "a quem tudo tem, tudo lhe será dado".
"Quem mais publica artigos continua recebendo mais recursos", diz Maria Conceição da Costa, socióloga da ciência da Unicamp.





Em 1991, ao reestruturar um programa de PG, já incluí a possibilidade de tese no formato de artigo(s). Ao longo desse tempo fui percebendo que as teses incluem muitos erros, parte dos quais são eliminados na publiação em revistas científicas de boa qualidade. Além disso, a forma predominante é a publicação de artigos; no sistema convencional, o aluno é preparado para isso aprendendo os equívocos na confecção de teses (que geralmente o afastam das boas revistas).

Sem dúvida, é um grande avanço a Capes aceitar esse formato de tese como artigos, o que já deveria ter ocorrido há uns 20 anos. Porém, temos que tomar um cuidado... a cabeça do aluno não pode ficar fatiada como na produção de papers. Acho bom que ele perceba que um conjunto de papers pode ser agrupado para se defender uma Tese mais ampla. Se isso estiver presente, acho ótimo. Acho estranho que se forme um Doutor (PhD) simplesmente porque publicou 1 ou 3 artigos; o ideal é cobrar dele os requisitos intelectuais para construir grandes ideias. Se o artigo está inserido nisso, então acho ótimo.

Quanto aos rankings das revistas, ou da atividade científica, notem que gradativamente estamos caminhando para análises de "eficiência". A Capes faz isso ao dividir as produções pelo número de orientadores e o ISI mostra isso ao calcular o número de citações dividido pelo número de artigos. Essa é uma medida interessante, uma vez que a produção científica tem um custo (econômico ou social) e isso deve ser ponderado. Quem publica demais, mas é pouco eficiente, é gastão! Quando os principais índices considerados estiverem olhando para este lado, então estaremos caminhando melhor. O que vale não é o número de produções, mas a qualidade delas.

Esta última observação é também válida para a confecção de teses. Não é o número de páginas que determina qualidade. Há áreas que se a Tese não parar em pé sozinha, não está boa. Temos que incluir na nossa ciência a noção de qualidade independente da quantidade. A quantidade só é importante quando acompanhada de qualidade. Assim, a tese na forma de artigos poderá ficar curta, mas acredito que tem muita chance de ter maior qualidade.

E com isso a Capes pára com essa besteira de publicar tese na Internet. Isso é prejuízo social. Os equívocos que bancas complacentes deixam passar vão direto para a Internet, com o aval da tese e da Instituição, incutindo equívocos em pessoas da ciência e, o que é pior, fora dela. Vejam se um medicamento seguisse tal percurso!


quarta-feira, agosto 03, 2011

Quatro "mundos" diferentes dentro da mesma sala de aula Variação exige que docentes adaptem a aula aos variados tipos de alunos


Quatro "mundos" diferentes dentro da mesma sala de aula
Variação exige que docentes adaptem a aula aos variados tipos de alunos

ANDRÉA JUSTE





Cada aluno tem seu mundo particular dentro da sala de aula. Existe o jovem da primeira carteira, o que fica "na dele", o inseguro e aquele "do fundão", que pouco quer saber da aula. Tomando como base um teste psicológico, pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) fizeram uma comparação entre os resultados e o modo como seria o comportamento dessas pessoas no ambiente escolar.

A conclusão é que existem quatro perfis de estudantes: estáveis, externalizados, internalizados - ou inibidos - e instáveis. "No site, vemos a escolaridade, repetências, salário. Essas variáveis e os níveis escolares estão associados a diferenças de temperamento", explica o médico psiquiatra Diogo Lara, coordenador do estudo e professor titular da Faculdade de Biociências da PUC-RS.

Segundo ele, a escolaridade é maior quando o temperamento é estável. A aluna do 3º ano do ensino médio Natália Peixoto de Azevedo, 17, é um exemplo do perfil. "Sou a aluna da primeira carteira e anoto até quando o professor respira", brinca a adolescente, que irá prestar vestibular para medicina. Além disso, Natália se considera atenta e responsável, características do comportamento estável.

Quem faz parte do fundo da sala integra o grupo dos externalizados. "Gostam de atividades mais participativas, mas têm dificuldades de engajamento em aulas lentas", diz Diogo Lara, ressaltando que costumam ser do tipo que não se organizam, mas são muito inteligentes. "São desses que estudam o mínimo. Dizem nos EUA que o aluno A é o presidente da empresa, o B é o gerente e o C é dono", comenta sobre a característica de quem gosta de correr mais riscos.

O jovem Guilherme Augusto Ávila Silva, 18, estudante do 3º ano, é a demonstração do comportamento. "Estou entrando na vida profissional para me arriscar. Estou de peito aberto. Se ficar conservador não vou crescer", diz ele, que irá prestar vestibular para engenharia civil. Guilherme também é do tipo que surpreende com o rendimento. "Tem professor que até fica com raiva porque eu converso muito e vou bem na disciplina", brinca ele, que prefere estudar nas vésperas das provas.

Os resultados da pesquisa serviram de alerta quanto ao rendimento dos estudantes. Pessoas internalizadas, com pouca motivação e apáticas são prejudicadas na evolução dos estudos. "Ele não fica tão na frente para não chamar a atenção do professor, mas não quer ir para trás, no pessoal da pesada. Então fica no canto, tenta se esquivar, nunca vai ser o que quer participar espontaneamente", diz Lara. Os instáveis, por sua vez, possuem altos e baixos. "Eles têm menos interesse genuíno na aula", comenta.

Para que todos esses mundos façam parte do aprendizado, a indicação do pesquisador é a adaptação mútua entre universos de professores e alunos. "O temor do docente é perder controle. Não adianta dar uma aula que apenas 50% da classe aproveita. A variação é importante para refrescar o cérebro, a concentração", orienta.

Uma dica para os docentes universitários se refere aos primeiros anos de faculdade. "Nos dois primeiros anos, eles recém-saíram da escola, então a aula tem a combinação da prática interativa com a teoria", diz Lara, alertando ainda que o tipo de motivação que o aluno tem para estudar conta muito para a participação em sala.
ANÁLISE
Professores devem buscar entender o universo dos alunos
Para que uma aula seja bem-aproveitada pela maioria dos estudantes, uma das recomendações é que os professores tentem entender a realidade dos alunos. "Eles são adolescentes, então têm pontos em comum. O professor tem que saber o que eles fazem no dia a dia, os programas de TV que assistem, músicas que escutam, senão fica longe da realidade deles", afirma o professor de história Flávio Freitas, da Escola Estadual Gama Cerqueira, em Belo Vale, na Grande Belo Horizonte.

Freitas acredita ainda que a estrutura da sala de aula é antiga. "Achar que o aluno vai se interessar por tudo é utopia. A escola do jeito do meu bisavô é a mesma de hoje", opina.

Preservar o interesse do estudante é o grande desafio de todos que ensinam, comenta o professor de sociologia do Colégio Arnaldo, João Baracho. Uma das alternativas, segundo ele, é criar debates em sala, dando fôlego às aulas expositivas. "Tento criar um ambiente de confiança dos alunos comigo. Não é ser amigo, mas fazer com que eles percebam que estou ali para auxiliá-los e não em um pedestal", comenta.

Segundo Baracho, os alunos mais internalizados são os mais difíceis nessa relação. "Aquele que faz muita bagunça é identificado rapidamente. Na mesma aula, posso tentar um artifício para incorporá-lo à discussão. O internalizado é difícil, pois não sei se ele está envolvido ou no ‘mundo da lua’", explica.

Porém, não existem receitas para lidar com cada turma, lembra o professor de física e matemática Bernardo Caetano, do Instituto Libertas Educação e Cultura e da Pólen Escola Waldorf. "Às vezes funciona conversar, conhecer a família", diz. Em casos de estudantes com problemas de disciplina, a ideia é uma ação em conjunto entre os docentes. "Se o aluno percebe em cada aula que as ações dele têm consequências, ele consegue responder bem", acredita, ressaltando que a escola precisa oferecer suporte aos professores e deixar regras e limites claros aos estudantes. (AJ)

segunda-feira, agosto 01, 2011

evolução do vocabulário de comunidades on-line


A vida das palavras
Físicos e linguista examinam a evolução do vocabulário de comunidades on-line

Ninguém sabe quantas palavras nascem a todo momento. Os estudiosos da linguagem só têm certeza de que elas devem ser muitas e de que a imensa maioria é raramente usada, geralmente esquecida. Afinal, existem muito mais palavras do que um único ser humano conseguiria aprender ao longo da vida. Para se ter uma ideia, o serviço de busca Google registrou 13 milhões de palavras distintas em língua inglesa usadas pelo menos 200 vezes em páginas na internet até 2006, enquanto pesquisadores estimam que o tamanho do vocabulário de um adulto com bom nível educacional não ultrapassa 100 mil palavras.

O mistério da criação das palavras continua, mas um estudo publicado em maio na revistaPLoS ONE, realizado pelos físicos brasileiros Eduardo Altmann e Adilson Motter em parceria com uma linguista norte-americana, ajuda a entender melhor como o vocabulário de uma comunidade evolui com o tempo. Ao analisarem estatisticamente milhares de palavras empregadas por quase 167 mil usuários de dois grupos de discussão na internet durante uma década, o trio de pesquisadores concluiu que as chances de uma palavra, velha ou nova, permanecer em uso no futuro não dependem tanto da frequência com que ela é usada atualmente, mas sim da variedade de assuntos em que é empregada e, mais importante ainda, do número de pessoas que a utilizam. Nas palavras do autor principal do estudo, Altmann, do Instituto Max Planck de Física de Sistemas Complexos, em Dresden, Alemanha, para manter a variedade de palavras em uso em uma comunidade, “é melhor muita gente falar pouco do que pouca gente falar muito”.

Esse não é o primeiro artigo sobre evolução do vocabulário assinado por Altmann e Motter, da Universidade Northwestern, em Evanston, no estado norte-americano de Illinois. A troca de mensagens entre milhões de pessoas por meios eletrônicos deixa vestígios na forma de bases de dados que cada vez mais os físicos estão se interessando em explorar, em busca de padrões que revelem a dinâmica social por trás da interação digital. “Físicos são muito bons em descobrir relações entre os mecanismos subjacentes e os padrões observados”, diz a outra autora do estudo, a linguista Janet Pierrehumbert, da Universidade Northwestern, sobre a colaboração. “Eles também são muito bons em fazer analogias entre um tipo de fenômeno e outro.”

Os pesquisadores escolheram analisar a atividade até 2008 de dois grupos de discussão da família de fóruns públicos Usenet, atualmente hospedados pelo Google, mas que já existiam em 1979, 10 anos antes da invenção das páginas web. Um dos fóruns estudados foi ocomp.os.linux.misc, criado em 1993 para discutir o sistema operacional Linux, do qual participaram 128.903 pessoas, que iniciaram 140.517 tópicos de conversação. O outro foi orec.music.hip-hop, grupo de discussão do gênero musical hip-hop, iniciado em 1995, em que 37.779 pessoas se engajaram ao menos uma vez em um dos 94.074 tópicos discutidos. O número total de palavras escritas pelos usuários de um desses grupos durante um intervalo de seis meses variava de quase 1 milhão a mais de 5 milhões.

Para quantificar como cada uma das palavras usadas nesses grupos era disseminada entre os usuários e os tópicos ao longo do tempo, não bastava simplesmente contar a cada seis meses o número de vezes que cada usuário usava a palavra e quantas vezes ela aparecia em cada tópico. A análise estatística precisou levar em conta o fato de que a atividade dos usuários e o tamanho das conversas desses grupos variavam muito. Alguns poucos usuários escreviam demais o tempo todo, enquanto muitos só contribuíam um pouquinho de vez em quando. Ao mesmo tempo, alguns poucos tópicos tinham mais de mil mensagens postadas, com a discussão durando mais de três anos, enquanto o tópico médio tinha cinco mensagens, durando cinco dias. No fim, conseguiram definir uma quantidade que mede o grau de disseminação de uma palavra entre usuários e conversas independentemente da frequência daquela palavra. Dessa maneira, conseguiram comparar a disseminação de palavras de ocorrência rara com a de palavras de uso frequente.
Presente e futuro - O passo seguinte foi comparar o número de vezes que cada palavra apareceu nas discussões e a medida de disseminação de cada uma delas em um período de seis meses com as mudanças na frequência de uso delas dois anos depois. Computando os números, os pesquisadores observaram que a frequência de uso de uma palavra num determinado momento informava pouco sobre a frequência com que seria empregada no futuro. Eles viram ainda que a quantidade de vezes que uma palavra seria mencionada dois anos mais tarde parecia ter uma estreita relação com a disseminação das palavras no passado. Concluíram, então, que a probabilidade do uso de uma palavra aumenta à medida que cresce o número de pessoas que a utilizam. Isso significa que, mesmo se uma palavra for muito utilizada hoje, ela corre o risco de cair em desuso daqui a alguns anos se o número de conversas e de tópicos em que é citada hoje for baixo.

Segundo os pesquisadores, a situação lembra muito a dos seres vivos lutando por sua sobrevivência. Cada palavra pode ser pensada como uma espécie biológica. “Cada uso da palavra pode ser comparado a um indivíduo de uma espécie”, explica Altmann. Para sobreviver, a palavra precisa se reproduzir, o que acontece a partir do momento em que alguém lê a palavra em algum lugar e a memoriza para usar no futuro. A disseminação da palavra, ainda de acordo com os pesquisadores, pode ser pensada como sendo o nicho (capacidade de interação) da espécie no ambiente. Quanto mais estreito o nicho de uma espécie, mais risco ela corre de extinção. Por isso, uma explosão populacional não garante a sobrevivência da espécie, se o seu nicho for pequeno. “A palavra precisa estar distribuída entre certo número de usuários, caso contrário ela morre”, diz o físico.

Um dos resultados a que o grupo chegou – o fato de a frequência de uso da palavra no presente não influenciar a frequência de uso no futuro – contraria a conclusão de estudos recentes que analisaram a dinâmica das palavras em períodos muito mais longos (séculos) e demonstraram a importância da frequência. No mais conhecido deles, publicado na revista Nature em 2007, um grupo liderado por Erez Lieberman, atualmente professor visitante no Google, mostrou que, em inglês, os verbos irregulares pouco usados tendem a se transformar em verbos regulares, enquanto apenas os mais adotados pela população mantêm a forma irregular. Isso explicaria por que o verbo irregular to be, o mais usado da língua, ainda é e deve permanecer irregular. Ao passo que o verbo irregular to slink, que significa caminhar sinuosamente e praticamente não é conhecido das pessoas, vem perdendo sua forma de passado irregular slunk em favor da variante regular slinked.
Janet acredita que esses estudos históricos estejam analisando casos muito específicos em que duas palavras competem por um mesmo nicho na linguagem. Ela explica que a maioria das palavras não está em competição umas com as outras, uma vez que sinônimos absolutos são extremamente raros. Por exemplo, as palavras yes yup podem ambas significar “sim”, mas o fato de a última ser mais coloquial que a primeira implica que cada uma é usada em situações diferentes e, portanto, cada uma tem seu nicho garantido. “Prevejo que esses fatores [disseminação entre usuários e tópicos] se mostrarão também muito importantes para explicar as flutuações de frequências em tempos históricos [da ordem de séculos]”, ela diz.

Nesse sentido, Altmann sugere que as medidas de disseminação das palavras desenvolvidas por eles sejam aplicadas em qualquer outra base de dados análoga, como a dos mais de 5 milhões de livros digitalizados pelo Google Books – alvo de estudo recente publicado naScience e encabeçado por Lieberman, que mensurou e comparou a frequência de diversas palavras-chave de interesse histórico e cultural (ver Pesquisa FAPESP nº 183). Nesse caso, os autores dos livros fariam o papel dos usuários e cada livro poderia ser pensado como uma entrada em certo tópico de discussão.

 Outros dois resultados da análise dos grupos do Usenet intrigaram os pesquisadores. Um deles foi o fato de que a disseminação entre os usuários influencia as mudanças de frequências das palavras mais do que a disseminação entre os tópicos. O outro resultado é que as palavras em geral são mais ligadas a usuários do que a tópicos. Juntas, essas conclusões revelam que as idiossincrasias dos indivíduos ou de subgrupos de indivíduos têm um papel central na manutenção do vocabulário da comunidade. “Quem ler as mensagens no grupo de hip-hop, por exemplo, vai perceber que as pessoas fazem um esforço para escrever de maneira diferente das demais para se posicionarem socialmente”, diz Altmann.

A disseminação das palavras não é o único fator determinante de seu sucesso. Altmann e seus colegas observaram que palavras ligadas a produtos comerciais como wireless eGnome (plataforma de distribuição de Linux) ou a personalidades como Bush e o rappernorte-americano Eminem começavam sua vida nos grupos de discussão com um grau de disseminação muito baixo – o que, em princípio, as teria fadado ao esquecimento. Mas, nesses casos, forças externas aos grupos, como campanhas publicitárias e veiculação de notícias nos meios de comunicação, agiram para que essas palavras fossem incorporadas ao vocabulário deles.

Já as gírias e os jargões bem aceitos pelos grupos seguiram a tendência estatística das demais palavras, sugerindo que a aceitação deles dependia mais de fatores internos que externos. A linguista Eleonora Albano, da Universidade Estadual de Campinas, comenta que gírias e jargões são adotados por uma comunidade se contribuem para construir a identidade do grupo social.

Maria Helena Neves, linguista da Universidade Estadual Paulista e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, considera interessantes os estudos quantitativos sobre conversações on-line, mas suspeita de que seus resultados não possam ser generalizados para a dinâmica da língua falada. “A amostra é restrita por causa do canal de expressão escolhido, do perfil dos usuários e do propósito da interação”, diz. Ela, aliás, desconfia sempre de generalizações. “Em linguagem não há receita pronta para nada, senão não existiriam a literatura e a poesia.”


Vocábulos FlutuantesDe 1998 a 2000, palavras em inglês com alto grau de disseminação entre membros de um grupo de discussão sobre o sistema Linux cresceram em popularidade. 
No gráfico a cima, elas estão representadas em cores que vão do vermelho ao amarelo. As palavras com baixa disseminação (do lilás ao preto) passaram a ser menos usadas. A variação na popularidade não dependeu da frequência de uso.
Veja na galeria de imagens como o gráfico original feito pelo pesquisador deu origem foi transformado em móbile pela artista.

Artigo científicoALTMANN, E.G. et al. Niche as a determinant of word fate in online groupsPLoS ONE. mai. 2011.