terça-feira, maio 03, 2011

o poder e a questão de Gênero uma olhar sobre as Mulheres no Poder...


O poder nas mãos delas

Somente homens entendem a arte de governar? Esse preconceito foi contrariado há séculos por Elisabeth I e Catarina, a Grande, entre tantas outras governantes.
Por Mathias Mesenhöller

Somente homens entendem a arte de governar? Esse preconceito foi contrariado há séculos por Elisabeth I e Catarina, a Grande, entre tantas outras governantes. Foi justamente a Democracia que baniu as mulheres do Poder. Mas desde os tempos de Margaret Thatcher elas estão voltando. Jamais houve tantas governantes como hoje. Elas se baseiam em outra tradição administrativa?

O avião de caça se aproxima zunindo, em voo rasante sobre a água. O barulho ensurdecedor é tremendamente violento, um pipocar que elimina todos os outros ruídos e penetra na cabeça como uma dor aguda. Os homens na fragata tampam seus ouvidos com as mãos.
A mulher não.

Nem quando um segundo "Tornado" passa, e depois um terceiro e mais um quarto. Quatro vezes ela se expõe à dor, quatro vezes tenta sorrir bravamente. Por nada nesse mundo ela quer dar aos fotógrafos a chance de tirar essa foto. Angela Merkel está em visita à Marinha da Alemanha.
Ela conhece a força simbólica das imagens. "A chanceler alemã não escuta, vira as costas. Ela é fraca." Mas quem fica sorrindo ao lado de um oficial, que se protege da barulheira, é forte. É um líder. É o chefe.
Grande parte do Poder é encenação. Poderoso é quem irradia poder. E cada vez mais fotos mostram mulheres que fazem precisamente isso: irradiar Poder. Já é o bastante para alimentar o falatório de uma "revolução feminista".



Mais de 80 mulheres foram eleitas chefes de Estado ou de governo desde 1945, mais de 90% delas somente após 1979. Na verdade, a maioria chegou ao Poder nos anos de 1990. Junte-se a isso todas as ministras, que há muito não são mais titulares apenas das clássicas áreas femininas.
Estamos em meio a uma mudança de caráter épico. Nunca antes tantas mulheres mandaram simultaneamente. Pela primeira vez, e de modo crescente, a pretensão feminina diante do Poder encontra, em grande parte do mundo, franco acolhimento. E quase não provoca mais aquela sensação desagradável que a acompanhou em quase todos os períodos históricos. Ao contrário, vez por outra, o que ela suscita são grandes esperanças.

Ironicamente, tais expectativas positivas se fundamentam em um argumento que durante muito tempo serviu para afastar as mulheres da atividade política: o de que elas têm uma constituição radicalmente diferente da dos homens. Elas são mais sociáveis, moralistas e empáticas. E, justamente por causa disso, inadequadas para o negócio braquial do Poder.
Essa afirmação foi inventada por volta de 1800 e, até hoje, alguns biólogos e pesquisadores comportamentais tentam prová-la. Por exemplo, com indicações de que um sistema hormonal médio feminino recompensa a cooperação, enquanto um masculino premia a competição. Ou com alegações discriminatórias de que crianças pequenas já se comportam especificamente de acordo com o gênero.
Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus, resume sem floreios o título de um best-seller: eles organizam a guerra, elas o piquenique da escola.


Esta é uma tese de dois gumes. Aos conservadores, ela se afigura uma justificativa para o fato de que, apesar de todas as mudanças sociais, o número de mulheres em posições de liderança ainda é muito inferior ao dos homens, isso porque sua função natural é, simplesmente, outra.
Já os defensores das mulheres se baseiam na diferença biológica para fundamentar a esperança.Segundo eles, o poder feminino poderia livrar o mundo das guerras e crises masculinas, das rixas e lutas por statuse dominação.
A História não fornece nenhuma indicação de que a Biologia tenha influído a questão de quem pode conquistar o Poder, e como ele será usado. Em vez de hormônios e modelos de atividades cerebrais, isso era determinado por regras sociais e talentos individuais.
  1. Portanto, quando e onde as mulheres podiam alcançar o Poder?
  2. Como elas governavam?
  3. Como se explica que tenham permanecido excluídas durante tanto tempo e agora festejam sua súbita revolução?


No período que precedeu o surgimento da tese das competências sociais e morais especiais das mulheres, antes do século XIX, a explicação era mais simples e sucinta: mulheres são inconstantes, pouco sagazes, inferiores aos homens tanto física, como intelectual e psicologicamente.
Por isso, elas em geral ficavam de fora enquanto o Poder era conferido a imperadores, reis, ministros. Mas, no momento em que o sangue era determinante, quando o grau de parentesco era mais importante que o sexo, elas governaram sim. Filhas herdaram tronos régios, viúvas foram regentes em lugar de seus filhos menores de idade, esposas substituíram homens incapazes.

No decorrer dos séculos, muitas mulheres governaram na Europa, imprimindo sua marca à evolução do continente. Assim, Elisabeth I pode dominar a Inglaterra da Renascença, e Catarina II transformar o Império Russo em grande potência mundial.
Foi somente no século XIX, quando o Poder passou a ser decidido em eleições, não mais através de heranças, que as mulheres desapareceram completamente do cenário governamental, excluídas sob o argumento de que não foram feitas para isso. A Democracia foi mais eficiente que o Feudalismo para eliminar o Poder feminino.
Mesmo depois de as mulheres terem conquistado o direito de votar, passaram-se décadas na Europa até que a primeira assumisse a chefia de um país: Margaret Thatcher, em 1979. A mulher considerada impertinente até por suas iguais. Mas, em retrospectiva, sua ascensão política parece ter coincidido com um período crítico: a Revolução Feminista.

Elisabeth I, Catarina II e "Maggie" Thatcher, o drama do Poder feminino no chamado "Velho Continente" pode ser apresentado, exemplarmente, em três atos. Um drama sobre a ambição que impulsionou mulheres poderosas, sobre as dificuldades que elas tiveram de vencer, e das estratégias que lançaram mão. Um drama com três personagens principais, que nos fala mais sobre as épocas em que elas viveram, do que sobre o preconceito do "eternamente feminino".
Todas as três, porém, compartilham uma experiência comum: elas não ganharam o poder gratuitamente.
Acantonamento de Tilsbury, sul da Inglaterra, 9 de agosto de 1588. O exército emudece. O vento sopra em torno das lanças dos soldados. Com os cabelos soltos, envolta em veludo branco, a rainha se ergue nos estribos de seu cavalo branco. A armadura peitoral prateada reluz.




"Eu sei que tenho o corpo frágil de uma mulher, mas tenho o coração e a coragem de um rei, e de um rei da Inglaterra!", grita Elisabeth. Antes que um príncipe espanhol penetrasse em seu reino: "Eu mesma pegarei as armas!" Eu mesma serei vosso general! Eu mesma os orientarei e recompensarei vossos atos!".
Doze mil homens, os melhores de suas guarnições, irrompem em júbilo ensurdecedor. Que os espanhóis desembarquem! Por essa mulher eles darão tudo! Defendê-la significa defender tudo o que é possível com a honra masculina.

Robert Dudley, conde de Leicester, amigo íntimo da rainha, assumirá o resto: ele anotará o discurso, mandará imprimi-lo e distribuir em todo o reino. Ele fará de tudo para imprimir esse momento, essa imagem, na fantasia nacional: sua rainha virginal, o exército decidido a tudo - antes da grande batalha decisiva da Inglaterra.
As notícias são desalentadoras. Do outro lado do Canal da Mancha encontra-se o temido exército espanhol dos Flandres, pronto para a invasão. Nesse preciso momento, dizem, 16.000 mercenários sobem nos barcos de assalto. O rei Filipe II, senhor incontestado de um império mundial que se estende da América do Norte aos Países Baixos, está determinado a derrubar a odiada mulher do trono.


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