Investidores
preocupados com os impactos negativos do dinheiro superbarato sobre bancos e
mercados globais podem precisar se preparar para juros abaixo de zero em
economias ao redor do mundo. O alerta foi dado por economistas do JP Morgan
frente à reviravolta que marcou o mercado internacional nos primeiros dias de
2016. Nova turbulência na China, a queda do preço do petróleo para menos de US$
30 e a apreciação de diversas moedas frente ao dólar mexeram com as bolsas e
renovaram temores sobre o crescimento global.
A
resposta das autoridades foi numa direção que parecia ter ficado para trás, com
políticas monetárias cada vez mais expansionistas, o que levou o planeta a uma
situação pouco usual de ter vários países ricos praticando juros negativos em
muitos de seus títulos de dívida pública. Ou seja, o investidor que emprestar
dinheiro a esses governos receberá no futuro menos do que aplicou. Este ano,
pela primeira vez na História, um título de longo prazo de um país do G-7
ofereceu rentabilidade negativa: os bônus de 10 anos do governo japonês foram
negociados por -0,035%.
Os
juros negativos se tornaram uma possibilidade "colocada à mesa" para
os Estados Unidos, segundo Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed, o
Banco Central americano). Trata-se de uma medida heterodoxa (alguns consideram
desesperada) e sem nenhuma garantia de que vai dar certo. Foi usada no passado,
com certo sucesso, para defender as moedas de países como Suíça, Suécia e
Dinamarca de uma valorização indesejada.
Dos
Estados Unidos à Austrália, passando pelo Canadá, os países ricos que ainda têm
juros no terreno positivo estão recorrendo a novos estímulos monetários ou
adiando a elevação de suas taxas. "Há uma nova onda expansionista. Quando
o Federal Reserve aumentou os juros, parecia o início da reversão da era do
dinheiro barato no mundo, mas parece que essa era pode ter sobrevida",
afirma o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, responsável
por acompanhar a economia internacional.
A
situação levou o mundo financeiro ao território do desconhecido. As implicações
práticas vão desde o redesenho de planilhas e alteração nos contratos jurídicos
até ajustes nos computadores, que foram comparados ao período conhecido como do
bug do milênio. À época, temia-se uma pane nos computadores na virada para o
ano 2000 - que acabou não se confirmando. Os bancos relutam em repassar aos
clientes o custo que têm quando deixam o dinheiro que não foi emprestado
depositado no Banco Central - o juro negativo incide na transação entre as
instituições financeiras e a autoridade monetária.
A
orientação é manter remuneração zero para contas-correntes e de poupança, mas
adotar tarifas de serviço que compensem esse custo adicional. Os piores efeitos
colaterais conhecidos, até o momento, são a sobrevalorização dos imóveis em
Estocolmo e em Copenhague.
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