quinta-feira, novembro 10, 2005

Desenvolvimento de Acervos por AZIZ NACIB AB'SÁBER

Bibliotecas comunitárias: acervos

PARTE DOIS DA SÉRIE DE ARTIGOS INDICA OBRAS PRIORITÁRIAS

Entre pessoas esclarecidas existe um certo consenso sobre a importância de alguns espaços complementares da educação. Para ir além do processo educativo formal - escolar e familiar - podem ser encontradas instituições que reforçam a recuperação do conhe­cimento e a consciência cultural dos futuros cidadãos.

Nesse sentido, têm grande importância os museus de ciências, as bibliotecas comunitárias, a iniciação à internet e, quando possível, visitação a cidades, regiões e paisagens de exceção. E eventuais debates com visitantes e pessoas esclarecidas. Das religiões apenas os mandamentos éticos e morais, de eterna validade.

De tudo isso, porém, no momento queremos salientar as po-tencialidades educativo-formativas das bibliotecas comunitárias dirigidas para periferias distantes ou zonas subcentrais degradadas, urbanisticamente complexas ou nodais.

A sequência de publicações que deve compor uma biblioteca dita comunitária deve ser aproximadamente a seguinte:

1. Livros infantis coloridos e revistas em quadrinhos, a serem ma­nuseados ou lidos por terceiros; estoque de desenhos para colorir.

2. Cartilhas para alfabetização, de métodos diferenciados.

3. Cadernos de exercícios para os alunos e manuais de apli­cação para professores.

4. Dicionários de português e outras línguas.

5. Coleção de manuais pré-universitários, enfocando todos os conhecimentos exigidos para os vestibulares (português, redação, matemática, física, química, geografia do Brasil, geografia física, geografia mundial, história do Brasil, história antiga e medieval, história moderna e contemporânea, história regional, ciências sociais, pré-história, computação, tecnologia e princípios de filosofia).

6. Ficção regional brasileira incluindo obras selecionadas de Machado de Assis, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Jorge Amado, José Lins do Rego, Guimarães Rosa, Aluísio de Azevedo, Dalcídio Jurandir, Júlio Ribeiro, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, entre outros.

7. Obras de poetisas e poetas brasileiros incluindo Carlos Drumond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Castro Alves, Adalgisa Néri, Guilherme de Almeida, Catulo da Paixão Cearense, Chico Buarque de Holanda, Jesus de Loureiro, Ferreira Goulart, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, entre outros.

8. Seleção de obras de escritores estrangeiros, incluindo obras literárias portuguesas, francesas e inglesas.

9. Obras de escritores latino-americanos.

10. Ensaístas brasileiros, incluindo sobretudo Euclydes da Cunha, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Fernando de Azevedo, Nelson Wemeck Sodré, Artur César Ferreira Reis, Antó­nio Cândido de Melo Souza, Monteiro Lobato, Leandro Tocantins, Roberto Santos, Violeta Paes Loureiro, Alceu de Amoroso Lima, Caca Diegues entre muitos outros.

11. Obras completas de alguns autores, tendo por exemplo Ma­chado de Assis, Monteiro Lobato, Sérgio Milliet e Paulo Duarte.

12. Obras referentes a Inconfidência Mineira, Brasil Imperial, República, universidades brasileiras, medicina e saúde pública, saneamento básico e educação. Domínios da Natureza.

13. Coleções de enciclopédias e dicionários ilustrados.

14. Revistas e jornais representativos do cotidiano no Brasil (O Estado de S. Paub, Folha de S.Paub, O Qbbo, Jornal do Brasil, Correio Brazfliense, Veja, IstoÉ, Época.)

15. Livros de editoras universitárias, revistas culturais de diferentes instituiçõesv

16. Vídeos e obras sobre o Brasil e o povo brasileiro.

Evidentemente, cada caso de biblioteca comunitária, periférica ou subcentral, deverá ter um mosaico cultural repres/gitativo desse vasto conjunto. Registre-se o fato de que após 30 iniciativas para a implantação dos embriões de tais espaços de leitura, a custo zero, há que obter um sistema público, igualmente solidário, para gerenciar essa importante iniciativa de complementação dos processos edu­ cacionais na base da pirâmide social brasileira.

Bibliotecas comunitárias: estratégias

TERCEIRA PARTE DA SÉRIE DE ARTIGOS DÁ EXEMPLOS DE ATIVIDADES PARA ATRAIR JOVENS

A potencialidade das bibliotecas comunitárias na condição de espaços complementares para educação é muito maior do que se pensa. No momento em que muitas bibliotecas de bairros de grandes cidades fracassaram nesses objetivos (apesar dos edifícios bonitos que as asilam), os pequenos estoques de livros reunidos em situações comunitárias, acrescidas por telecentros, podem constituir exemplos de estratégias culturais para meno­res e adolescentes ávidos por atenção e atividades laboratoriais (computação e internet).

Progressivamente, crianças de 4 a 7 anos, adolescentes de primeira e segunda fases e até adultos poderão ser envolvidos por atividades culturalmente úteis e engrandecedoras. Eviden­temente, para obter algum sucesso, é preciso ter a colaboração discreta, porém permanente, de órgãos públicos dirigidos por personalidades esclarecidas e cultural e socialmente sensíveis. Além de um voluntariado bem orientado.

Através de experiências já realizadas - baseadas em ob­servações socioeconômicas e culturais, obtidas nas imensas periferias carentes da cidade de São Paulo - surgiram propostas simples e de baixíssimo custo. Cada biblioteca comunitária deve ter um estoque de 12 a 20 pranchetas simples, para exercícios com meninos e adolescentes pobres.

Distribuídas as pranchetinhas simples para as crianças, com papel branco adequado, pode-se solicitar a algumas delas, ou grupos de dois a três dentre elas, as seguintes atividades, em sequência: um desenho sobre o que escolherem, acrescidos de um ligeiro comentário. (Uma casinha, árvores, morros ou colinas e, no céu, nuvens e o Sol aparecendo, o pico do Jaraguá ou o Pão de Açúcar, um menino jogando capoeira ou futebol, ou qualquer animal de estimação.) Ao autor do melhor desenho se daria o presente de uma prancheta e um maço de papel. A segunda experiência deveria ser feita com o objetivo de um desenho apresentado em preto e branco, com uma ligeira preleção sobre o espectro das cores. Tendo em acréscimo um papel branco para feitura de quadradinhos que representem as cores, sob a condição de escrever sob cada um deles os nomes correspondentes, em um primeiro exercício de escrita. Para tudo isso, a biblioteca deve ter cópias de desenhos pré-elaborados, uma lata de lápis de cor, pranchetas disponíveis, e alguns exemplos de desenhos pré-coloridos, para uma rápida sugestão sem o direito de cópia.

E, por aí, seguem-se novas atividades em sequência e uma redação simples sobre qualquer assunto pensado por alunos que já estejam alfabetizados, logo seguida por um trabalho escrito sobre o bairro e a rua da residência de cada um: "Meu bairro e minha rua".

Antes ou depois do primeiro esforço de redação, solicitar o preenchimento de uma ficha pré-digitada, indicando seu nome, país, bairro e a rua onde reside, lugar de nascimento e, se possível, lugares de nascimento dos pais, assim como escola em que estuda e profissão que gostaria de ter no futuro.

No momento em que se puder contar com um telecentro, ensinar digitação e, através da internet, obter um fragmento de uma imagem de satélite referente ao lugar de onde vieram ao mundo (eles próprios e seus pais). Em um mapa do Brasil, localizar o lugar, o estado e a região de procedência de seus familiares. Sertão do Ceará? Zona da Mata pernambucana? Vale do São Francisco? Ou o interior de São Paulo? E, a partir daí, se possível, alguém lhes dará uma ideia sintética sobre as realidades regionais do país, sobre condições naturais, ambien­te socioeconômico, problemas sociais básicos, desigualdades sociais e económicas e discriminações.

Assim estaremos reforçando a formação dos cidadãos brasileiros do amanhã. Para não falar na importância que podem ter as sessões de leitura de livros, jornais, revistas e grandes obras de ficção- Tudo isso e muito mais.

AZIZ NACIB AB'SÁBER é professor emérito da FFLCH/USP e professor honorário do Instituto de Estudos Avançados/USP.

Atenção quem tiver acesso a parte um desse ensaio gentileza enviar. SCIAM nº 40

Um comentário:

André Luiz disse...

Eu tenho a revista com o primeiro texto da Série "Bibliotecas Comunitárias" da revista Scientific American Brasil, escrita pelo Prof. Aziz Nacib Ab´Sáber. Como posso enviar para você?

André Luiz
xeqmate@gmail.com