Domício Proença Filho é o segundo presidente negro da academia, sendo o primeiro Machado de Assis
Rio de Janeiro. O escritor e professor carioca Domício Proença Filho, 79, assumiu na última semana a presidência da Academia Brasileira de Letras (ABL) preocupado com os possíveis efeitos da crise econômica sobre os programas da instituição, mas determinado a ampliar a atuação da casa na promoção da leitura e da língua portuguesa.
Ocupante da cadeira 28 desde 2006, Proença avalia que a crise pode ter impacto sobre os aluguéis de imóveis da ABL, principal fonte de renda da instituição. Promete não cancelar nenhum dos projetos realizados pela casa, como o seminário “Brasil, Brasis”, as publicações e os ciclos de música clássica e popular. Ele diz, porém, que alguns deles podem ter que sofrer reduções, como as leituras dramatizadas e o financiamento de coedições.
“A ABL é uma instituição sem fins lucrativos, que vive dos aluguéis de seus imóveis. Uma crise tem reflexos nisso. Felizmente, temos uma reserva que nos dá tranquilidade, mas nos obriga a ter prudência. Não vamos acabar com nenhum programa, mas podemos ter que adequar alguns à realidade da crise. A sociedade nos conferiu uma aura de instituição representativa da cultura brasileira. Nosso desafio é manter isso”, diz Proença.
É inegável que a crise econômica afetou o mercado editorial e projetos de incentivo à leitura neste ano. Proença cita como exemplos os cortes em programas federais de compras de livros, que tiveram impacto nas editoras, e o cancelamento da edição de 2015 da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (RS), tradicional evento que tinha um braço dedicado ao público infantojuvenil. Para o novo presidente, esse cenário reforça a importância do papel da ABL na difusão da língua portuguesa e da leitura.
“A importância da leitura deveria ser evidente, mas é necessário defendê-la, porque o livro ainda é visto como supérfluo no Brasil. Uma cláusula pétrea em nosso estatuto diz que o objetivo primeiro da Academia é o culto da língua e da literatura nacional. Isso já é feito, mas pretendemos dar ainda mais força a esse aspecto, com debates, pesquisa e divulgação”, diz Proença, eleito para mandato de um ano, por unanimidade, como é tradição na ABL, em chapa que inclui Nélida Piñon, secretária-geral, Ana Maria Machado, primeira-secretária, e Merval Pereira, segundo-secretário.
RACISMO FICA DE FORA. Segundo presidente negro da história da ABL – sendo o primeiro o cofundador da academia, Machado de Assis –, Proença Filho é categórico ao dizer que não levará o tema do racismo, central em seu trabalho, para a instituição.
“A Academia não discutirá isso. A questão racial nunca foi sequer aventada aqui, seja contra ou a favor. Eu não fui cota. A Academia não me elegeu por eu ser um negro escritor. Me elegeu porque sou um escritor, um professor”, disse o imortal ao jornal “Folha de S.Paulo”.
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