Mudança do eixo informacional, novas formas de distribuição mostram o potencial de crescimento e força para atender a usuários. Laçam a questão podemos atuar nesse campo? Como fazer?
serviços de streaming e on demand.
Héberle
Adele. Clipe “Hello” da cantora bateu recorde de visualizações no YouTube, com 100 milhões em apenas cinco dias
Números do streaming ultrapassam TV aberta no Brasil
Há quatro meses, a estudante universitária Rafaela Fernandes, 23, cancelou seu serviço de TV paga. “Moro sozinha, quase não fico em casa, e a TV servia para quando meus pais vinham visitar. Mas agora até eles aderiram ao Netflix”, ela conta.
Em inglês, já foi criada uma expressão para essa geração de Rafaela – os “cordcutters”, um duplo sentido para quem cortou o cabo e o vínculo quase umbilical com as amarras das mídias tradicionais. Eles desejam ver o que querem, na hora, lugar e dispositivo que for mais conveniente, e pagar só por isso. Mas é exatamente o fato de que até os pais se juntaram a ela nessa ruptura o que faz com que o crescimento dos serviços de streaming e on demand tenha deixado de ser um mero fenômeno geracional – e se transformado em uma verdadeira revolução. “Não tenho mais TV a cabo. Quando quero ver alguma coisa da Globonews ou GNT, uso a senha da minha namorada no Globosat Play”, confessa o analista de sistemas Humberto Guerra, 47.
São escolhas como as dele e de Rafaela que fizeram com que o grito de independência virtual fosse dado também às margens do Ipiranga. Uma pesquisa recente realizada pelo instituto norte-americano ComScore na América Latina apontou que os usuários de serviços on demand ultrapassaram a audiência da TV aberta no Brasil – são 82% de navegadores contra apenas 73% de telespectadores. “Antes do Netflix, eu ia ao cinema uma vez por semana. Quando contratei, passei a ir umas duas vezes por mês. Hoje, devo ir duas vezes ao ano”, calcula Guerra. Já Rafaela só tinha visto “Friends” e “ER” na TV. “Agora, acompanho cerca de dez séries online”, confessa.
“House of Cards”. Primeiro sucesso do Netflix popularizou o fenômeno do “binge-watching” entre usuários
Isso mostra que, mais do que uma simples mudança de hábitos, a transição para o streaming, intimamente ligada ao fenômeno das séries e do chamado “binge watching”, representa uma transformação no tipo e no volume de conteúdo assistido por seus usuários. “Nunca fui muito de acompanhar série em TV. Hoje, se brincar, devo gastar uma ou duas horas por dia. Antes, era uma ou duas horas por semana”, compara Sílvio Ferreira Junior, professor de comunicação da PUC Minas.
Controle. Ele ficou tão intrigado por isso que decidiu fazer da cultura on demand sua pesquisa de mestrado. A partir de um questionário online respondido por 500 pessoas, Junior descobriu que apenas 25% delas ainda assiste TV ao vivo; 80% preferem quando todos os episódios de uma série são disponibilizados de uma vez – o usuário quer ter o controle do quanto e quando vai assistir, renegando a ditadura da espera semanal da TV. “Não sou dos que ficam aguardando o episódio ser lançado. Começo a assistir uma série quando estão todos disponíveis e vejo um por dia”, conta Guerra. “Dou preferência para séries que já acabaram, mais antigas, e deixo as atuais para ver depois”, completa Rafaela.
Além disso, a maior parte acessa serviços gratuitos, como Youtube, ou por assinatura, como o Netflix, enquanto poucos usam serviços premium como Fox Play ou HBO Go, em que o vínculo pago com o canal ainda é necessário. E a maioria prefere usar os serviços no notebook, tablet ou smartphone à televisão. “Quanto mais jovem, mais confortável a pessoa se sente em assistir em telas menores. O curioso é que o lugar em que as pessoas mais acessam continua sendo a sala ou quarto”, argumenta Júnior.
Guto Aeraphe, diretor mineiro das webséries “Heróis” e “Cidade do Sol”, tem uma explicação para isso. “A internet móvel ainda é muito cara no Brasil”, pondera. Por isso, o realizador divide a atual revolução do streaming em dois fenômenos diferentes. O primeiro diz respeito a vídeos curtos, de cinco a dez minutos, que as pessoas veem nos smartphones e de forma mais coletiva, em redes sociais como Facebook e Twitter. E o segundo são vídeos mais longos, consumidos de forma mais individualizada em plataformas como Netflix, Net Now e Claro Play. “Mas existe um número grande de pessoas que compartilham suas impressões das séries nas redes sociais. A experiência coletiva da TV e do cinema se mantém, ela só mudou de local”, ressalta Junior.
o tempo
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“Cidade do Sol”. Websérie de Guto Aeraphe filmada em Contagem está concorrendo em dois festivais internacionais.
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