Rita Clemente estreia peça "Amanda", que narra história de uma mulher de meia-idade que vai perdendo todos seus sentidos
Desde que Hans-Thies Lehmann sinalizou que o teatro – da metade do século passado para cá – vivia a “era” do pós-dramático ou que Peter Szondi escreveu seu livro “Teoria do Drama Moderno”, a construção de personagens já não é a mesma. A imersão em ações físicas, psicologismos e “ses” imaginários deu lugar a uma construção em que o artista se posiciona diante daquilo que apresenta, e, muitas vezes, é justamente o artista que se vê, muito mais que o personagem.
Ainda assim, se para muitos artistas esse tipo de construção – quase uma encarnação – de personagem é algo ultrapassado, para o público, ele é recorrente. Em vias de estrear seu monólogo “Amanda” – que faz parte do projeto Criações de Bolso, do Sesc Palladium – , a atriz Rita Clemente convive com a confusão, quando passa pelos corredores do teatro. “Para mim, o personagem existe, porque existe um autor e ele criou uma ambiência, uma situação. O embate do teatro diz respeito à presença de um ator. Sem querer ditar regras, nós queremos assumir que existe um paradoxo: a única coisa que faz o personagem existir é o próprio ator. Precisamos assumir esse paradoxo esquizofrênico de que eu não sou a personagem, mas eu sou a presença dele. Isso faz parte do nosso jogo da atuação, mesmo quando ela é performática”, sinaliza Clemente.
“Amanda” conta a história de uma mulher que convive com a perda paulatina de seus sentidos. Ela é uma mulher de meia-idade que procura se manter viva com o pouco que lhe resta. Para dar vida à personagem, à primeira vista com tão pouca vida: “Decidimos, por assim dizer, dar uma voz particular a Amanda, atribuindo ao texto uma qualidade que perpassa o realismo fantástico, no entanto, com uma apropriação performática, quer dizer, com uma dramaturgia paralela que envolve o meu posicionamento artístico e também, de forma natural, um diálogo com a linguagem musical, que é muito recorrente nas criações das quais eu faço parte”, revela Clemente.
O texto, recheado de humor e tragédia, é do celebrado autor carioca Jô Bilac. “Ele tinha esse texto e, nas nossas conversas, comentou a respeito. Nos interessamos em encená-lo”, destaca Clemente. A narrativa se aprofunda no desenvolvimento da personagem diante da progressiva perda dos sentidos: audição, paladar, olfato, tato, visão. Esses cinco sentidos, que em princípio são revelados pelo texto, se desdobram na memória de Amanda: uma mulher que procura, desastrosa e desesperadamente, manter seu dia a dia intacto.
“Imagino que para o Jô haja uma inspiração real nessa personagem, mas, pra mim, diz respeito à capacidade, vontade e urgência em continuarmos vivos mesmo diante das nossas pequenas misérias. As palavras do autor me inspiram a criar um mundo específico para essa personagem, mas ela representa a coletividade”, filosofa Rita.
Essa não é a primeira vez que a atriz se arrisca em um monólogo. Seu “Dias Felizes: Suíte em Nove Movimentos” foi indicado em cinco categorias pelo Prêmio Questão de Crítica, no Rio de Janeiro. “Os espetáculos solo ocupam um belo lugar na minha carreira. Um lugar que só o teatro te dá e também somente o monólogo proporciona: ser responsável pelo que cria, atribuir coragem ao que cria. Confesso que a solidão não é interessante, mas tenho escolhido melhor meus parceiros, que são, hoje, gente que abraça a ‘causa’ e se envolve e quer criar também. O teatro não te deixa trabalhar só, e isso é muito bom”, aponta.
Ainda assim, se para muitos artistas esse tipo de construção – quase uma encarnação – de personagem é algo ultrapassado, para o público, ele é recorrente. Em vias de estrear seu monólogo “Amanda” – que faz parte do projeto Criações de Bolso, do Sesc Palladium – , a atriz Rita Clemente convive com a confusão, quando passa pelos corredores do teatro. “Para mim, o personagem existe, porque existe um autor e ele criou uma ambiência, uma situação. O embate do teatro diz respeito à presença de um ator. Sem querer ditar regras, nós queremos assumir que existe um paradoxo: a única coisa que faz o personagem existir é o próprio ator. Precisamos assumir esse paradoxo esquizofrênico de que eu não sou a personagem, mas eu sou a presença dele. Isso faz parte do nosso jogo da atuação, mesmo quando ela é performática”, sinaliza Clemente.
“Amanda” conta a história de uma mulher que convive com a perda paulatina de seus sentidos. Ela é uma mulher de meia-idade que procura se manter viva com o pouco que lhe resta. Para dar vida à personagem, à primeira vista com tão pouca vida: “Decidimos, por assim dizer, dar uma voz particular a Amanda, atribuindo ao texto uma qualidade que perpassa o realismo fantástico, no entanto, com uma apropriação performática, quer dizer, com uma dramaturgia paralela que envolve o meu posicionamento artístico e também, de forma natural, um diálogo com a linguagem musical, que é muito recorrente nas criações das quais eu faço parte”, revela Clemente.
O texto, recheado de humor e tragédia, é do celebrado autor carioca Jô Bilac. “Ele tinha esse texto e, nas nossas conversas, comentou a respeito. Nos interessamos em encená-lo”, destaca Clemente. A narrativa se aprofunda no desenvolvimento da personagem diante da progressiva perda dos sentidos: audição, paladar, olfato, tato, visão. Esses cinco sentidos, que em princípio são revelados pelo texto, se desdobram na memória de Amanda: uma mulher que procura, desastrosa e desesperadamente, manter seu dia a dia intacto.
“Imagino que para o Jô haja uma inspiração real nessa personagem, mas, pra mim, diz respeito à capacidade, vontade e urgência em continuarmos vivos mesmo diante das nossas pequenas misérias. As palavras do autor me inspiram a criar um mundo específico para essa personagem, mas ela representa a coletividade”, filosofa Rita.
Essa não é a primeira vez que a atriz se arrisca em um monólogo. Seu “Dias Felizes: Suíte em Nove Movimentos” foi indicado em cinco categorias pelo Prêmio Questão de Crítica, no Rio de Janeiro. “Os espetáculos solo ocupam um belo lugar na minha carreira. Um lugar que só o teatro te dá e também somente o monólogo proporciona: ser responsável pelo que cria, atribuir coragem ao que cria. Confesso que a solidão não é interessante, mas tenho escolhido melhor meus parceiros, que são, hoje, gente que abraça a ‘causa’ e se envolve e quer criar também. O teatro não te deixa trabalhar só, e isso é muito bom”, aponta.
Atriz, diretora de múltiplas frentes, ela acredita que experiências de estar sozinha em cena são uma espécie de oxigênio para os outros projetos artísticos em sua carreira. “Se é revigorante para outros trabalhos? É sim, porque eu costumo ir aonde, muitas vezes, não posso ir ou não tenho autonomia para fazer um mergulho mais intenso, e isso te faz redescobrir caminhos, jogar coisa fora, se deparar com novas sensações em cena, outras formas. Enfim, revigora, sobretudo na partilha com a equipe”, finaliza Clemente.
Sesca Palladium
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