Foto: Charles Guerra / Agencia RBS
Quando era criança, uma palavra não podia ser pronunciada na casa de Miriam Braga: câncer. Ela cresceu vendo a avó, tios e outros conhecidos sendo atingidos e morrendo pelo que a mãe chamava de“aquela doença”. Para ela, câncer era uma sentença de morte. Uma vez descoberta, a doença não deixava chances. Era o fim.
Mas Miriam cresceu. Conheceu outras pessoas com a doença e que, para sua surpresa, sobreviveram. A visão que tinha quando criança passou a ser questiona e ela percebeu que sim, havia como sobreviver ao câncer. A resposta estava na prevenção.
Envolvida com voluntariado desde a década de 1990, a gaúcha que mora na Grande Florianópolis há mais de 20 anos decidiu voltar seu trabalho para mulheres vítimas “daquela doença”. Em 2009, quando começou a ouvir falar em Outubro Rosa, decidiu se engajar, mesmo sem saber como.
Começou vestindo a cor da campanha e indo, de casa em casa em São José, onde mora, entregar panfletos sobre a prevenção ao câncer de mama. Mas faltava mais.
Em 2011, Miriam conheceu a Associação Brasileira de Portadores de Câncer (Amucc) e se engajou em outras entidades da área.
— Comecei a ajudar, mas com o passar do tempo eu percebi que eram elas que me ajudavam. Quando você conhece uma mulher que não tem os dois seios, perdeu o cabelo, a autoestima, você pensa que precisa ajudar. Mas encontra uma mulher forte, guerreira, que dá muito valor à vida. Isso foi me mudando — relata a promotora de eventos, hoje com 49 anos.
Miriam começou a visitar mulheres com a doença e conhecer suas histórias. Foram relatos que a tocaram tanto que decidiu que não podia guardar para si.
— Pensava em usar para alguma coisa. Aquilo não podia passar em branco pela minha vida — conta.
Então surgiu a ideia de um livro, que começou a ganhar forma em 2012, principalmente depois que recebeu o prêmio Orgulho Brasileiro, entregue pelo astronauta Marcos Pontes a pessoas que se destacam no voluntariado.
— Naquele dia ele me disse que o céu não é o limite, isso me motivou ainda mais — recorda. Os relatos viraram texto, o apoio técnico veio da Amucc, o livro ganhou nome. “Mulher de verdade” é o título da obra que será lançada no fim deste mês em Florianópolis, ainda sem data nem local confirmados.
O livro
Cinco mil exemplares serão impressos e pagos do bolso de Miriam. A intenção é distribuir gratuitamente e imprimir ainda mais, mas, para isso, ela precisa de patrocínio.
— São relatos de 50 mulheres que venceram o câncer. A ideia inicial era fazer só sobre o câncer de mama, só que eu conheci cada história que decidi ampliar. Foi muito além do que eu pensava — comemora a agora escritora. O objetivo é inspirar pessoas que vivem o mesmo drama e encontrem ali motivação.
Para Miriam, os relatos vitoriosos são capazes de mudar a vida de alguém, como mudaram a sua. Ela não teve câncer, não sentiu isso na pele, mas a empatia fez com que narrasse as histórias sendo fiel aos relatos das mulheres que as viveram.
— Você não precisa passar por algo grave para passar por uma transformação. É só se colocar no lugar do outro — resume Miriam. Ela planeja ir a Curitiba e Porto Alegre e já teve convites até para o exterior para lançar o livro. Quem puder ajudar deve entrar em contato com ela pelo e-mail miriambraga.sc@gmail.com e telefone (48) 9841-6699.
O legado
Esposa, mãe de três filhos e avó, Miriam Braga dedicou-se ao Outubro Rosa de maneira mais especial esse ano ao ser escolhida como madrinha da campanha pela Amucc. Não quis lançar o livro neste período para não “tirar o foco” da missão, ela explica. Por isso, não encara a obra como seu legado.
— Eu fiz um negócio muito legal que foi a “Dinda na escola”. A gente sempre criava ações para falar com as mães, com os adultos. Mas pensei que a gente tinha que chegar nas crianças, com uma linguagem diferente, para que eles passem as informações para as mães — ela conta. Dentro deste projeto Miriam começou a visitar as escolas da região. Mais de 3 mil crianças receberam a mensagem.
HORA DE SANTA CATARINA Por STEFANI CEOLLA
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