Duas vezes por dia, uma equipe de voluntários entra na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Instituto Fernandes Figueira (IFF), no Rio de Janeiro, para ler histórias para bebês prematuros. O hospital é referência para doenças infantis crônicas. E a iniciativa faz parte do Núcleo de Apoio a Projetos Educacionais e Culturais (Napec), que desde 2001 desenvolve junto aos pacientes e familiares da instituição oito ações que têm como mola mestra a leitura de histórias. “O livro é a ligação do hospital com a realidade da qual as crianças estão afastadas em virtude do momento de internação”, explica a idealizadora e coordenadora do Napec, a pedagoga Magdalena Oliveira.
“Para os prematuros, os livros de contraste, aqueles de duas cores, principalmente em preto e branco, são muito importantes. Eles chamam a atenção dos bebês”, orienta a pedagoga. Segundo Madá, como é carinhosamente chamada pelas crianças do IFF, para os recém-nascidos a poesia, com a musicalidade das rimas e dos versos, é o gênero literário mais eficiente. A pediatra do IFF e diretora da SBP, Rachel Niskier, acrescenta que a leitura acalma: “As crianças às vezes dormem no meio da história, mas não é desinteresse, e sim porque há uma calma interna muito grande”.
O projeto conta com nove coordenadores, uma bibliotecária e 155 voluntários, divididos em dia e hora fixos (veja o quadro Multiplicadores do bem). A dedicação exigida é de 2,5 horas por semana. Eles estão aptos a colaborar depois de dois meses de treinamento para aprender a ler sem interromper a percepção da criança.
O trabalho dos leitores voluntários é feito em enfermarias, ambulatórios, salas de espera e, principalmente, na sala de leitura montada no segundo andar do IFF. No período de dezembro de 2013 a novembro de 2014, foram feitas 3.635 mediações pela equipe da pedagoga Madá.
Mãe de Otávio Henrique Mello, 6 meses, Ariane, 20 anos, se encanta com o projeto. “Eu leio, canto, conto histórias, peço livros emprestados. A leitura ajuda muito a mim e a ele”, conta. Mariane de Oliveira, mãe de Maria Alice, 1 ano, também aplaude a iniciativa. “Essencial para as crianças e para a gente também. Minha filha adora e pede para a gente ler um livro. Quando lê, ela gruda no livro”, diz.
A pequena Laura Leite Santos, 4 anos, fica agitada quando vê Madá pelos corredores da enfermaria do IFF. Toda animada conta: “Ontem, eu li uma história muito legal. O moço falou do Bob Esponja, que chama calça quadrada. Eu adoro história do Bob Esponja e de fada. Madá, lê uma história!”, pede a criança.
Multiplicadores do bem
A enfermeira Fabiana Santos Barbosa Cruz, 35 anos, conheceu o projeto quando a filha Stephany, que tinha fibrose cística, esteve internada no IFF. “Na primeira vez ela ficou desconfiada, mas depois se acostumou, não podia ver uma pessoa que falava ‘hitorinha, hitorinha’. Todo mundo que passava ela queria que lesse histórias. Ela era apaixonada pelo hábito da leitura e qualquer livro que via queria que contassem histórias. É uma iniciativa maravilhosa. Esse projeto é lindo! É muito bom para as crianças.”
Stephany morreu há seis anos, quando tinha 3,5 anos, e, agora, Fabiana passa os dias no hospital trabalhando como voluntária. Das lembranças da filha, recolhe elementos que permitem a expressão de carinho e cuidado na hora de ler. “Tem um livro que ela gostava muito: Menina Bonita do Laço de Fita. Os olhos dela brilhavam quando via o livro. Hoje eu leio esse livro para as crianças e até me emociono porque lembro dela. Não sei se era por causa do laço de fita, não sei se porque a menina era negra. Não sei o que chamava tanto a atenção dela, mas ela gostava desse livro. Afinal, todas as crianças, bebês, gostam de livros.”.
Essa é uma campanha da Sociedade Brasileira de Pediatria, Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e Fundação Itaú Social.
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