sexta-feira, maio 06, 2011

Seja prudente e persistente e desfrute de uma vida longa


Seja prudente e persistente e desfrute de uma vida longa
Pessoas conscientes tendem a manter hábitos e relações mais saudáveis

Nova York. Após ler "The Longevity Project" ("O Projeto da Longevidade", em tradução livre), fiz uma pesquisa extraoficial com amigos e parentes perguntando-lhes qual a característica da personalidade que eles achavam que mais se associava a uma vida longa. Muitos disseram "otimismo", seguido de "equanimidade", "felicidade", "um bom casamento", "a habilidade de lidar com estresse". Um sugeriu, de brincadeira, "bons modos à mesa".

De fato, "bons modos à mesa" é o mais próximo da resposta correta. Alegria, otimismo, extroversão e sociabilidade podem tornar a vida mais divertida, mas não necessariamente a estenderá, segundo descobriram os autores do livro, Howard S. Friedman e Leslie R. Martin, em um estudo que cobriu oito décadas. Os traços-chave são prudência e persistência. 

"Os resultados claramente revelaram que o melhor traço de personalidade da infância prognosticadora da longevidade era a consciência", eles escreveram. "É qualidade de uma pessoa prudente, persistente, bem organizada, como um professor-cientista - algo obsessivo e de modo algum despreocupado", concluiram Friedman e Martin, que persistiram em um estudo de 20 anos - seguindo documentos que foram coletados ao longo dos 60 anos anteriores por Lewis Terman e seus sucessores.

A pesquisa começou há 80 anos, na Califórnia. Em 1921, Terman escolheu 1.528 alunos brilhantes, de 11 anos de idade, em São Francisco, para uma pesquisa a longo prazo sobre os indicadores sociais da liderança intelectual. Terman entrevistou as crianças, suas famílias, seus professores. Estudou suas brincadeiras habituais, o casamento de seus pais e suas personalidades: eram diligentes, extrovertidas, alegres? Ele e sua equipe reuniam-se com os participantes a cada cinco ou dez anos. Terman morreu em 1956, mas colegas mantiveram as entrevistas regulares com o mesmo tema.

A partir de 1990, Friedman e Martin revisaram os registros de Terman, resgataram atestados de óbito e fizeram perguntas de Terman aos participantes do estudo que ainda estavam vivos. Também conduziram uma análise de grupo de outros estudos similares e colaboraram com especialistas de várias áreas.

Muitos presumem que biologia é o fator crítico para a longevidade. Friedman diz que não. "Genes constituem cerca de um terço dos fatores que levam à vida longa. Os outros dois terços têm a ver com estilos de vida e acaso", afirma.

Relação. Há três explicações para o papel dominante da consciência. A primeira e mais óbvia delas é que pessoas conscientes tendem a viver estilos de vida saudáveis, não fumar ou beber em excesso, usar o cinto de segurança e seguir orientações médicas. A segunda é que pessoas conscientes têm propensão não só a estarem em situações mais saudáveis, mas também em relacionamentos mais saudáveis: casamentos felizes, amizades melhores etc.

A terceira explicação para a conexão entre consciência e longevidade é a mais intrigante. Friedman e outros pesquisadores descobriram que algumas pessoas são predispostas a serem não só mais conscientes, mas também mais saudáveis. "Eles não só tendem a evitar mortes violentas ligadas a fumar e beber, mas indivíduos conscientes também são menos propensos a uma série de doenças". A explicação fisiológica exata é desconhecida, porém aparentemente tem a ver com níveis de químicos, como a serotonina, no cérebro.

Quanto ao otimismo, ele tem seu revés. "Se você é alegre, muito otimista, especialmente frente à doença, se não considerar a possibilidade de haver contratempos, então tais vicissitudes são mais difíceis de lidar", disse Martin. "Se você é uma dessas pessoas que acham que está tudo bem e algo falha, o estresse por não ter sido mais cuidadoso é prejudicial. Você basicamente cria problemas para si próprio", conclui Martim.


KATHERINE BOUTON
The New York Times


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