domingo, novembro 01, 2015

Adultos brasileiros não sabem matemática básica

Falhas ainda abrangem respostas a perguntas sobre porcentuais e frações

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Análise. Segundo especialista, uma sociedade que sabe pouco de matemática não é competitiva
A matemática não é desafio só para quem está na escola. Pesquisa realizada em 25 cidades brasileiras com adultos de mais de 25 anos mostra que a maioria não sabe fazer operações matemáticas básicas: 75% não sabem médias simples, 63% não conseguem responder a perguntas sobre porcentuais e 75% não entendem frações, entre outros resultados dramáticos.
Em avaliações similares em países ricos, o resultado é em média quatro vezes melhor. O estudo ainda aborda a rejeição que o tema provoca. A matéria mais detestada foi matemática, com 43% das respostas. A memória que os adultos têm do assunto é até pior: 65% dizem não ter tido facilidade com a disciplina na escola.
Segundo o coordenador do estudo Flavio Comim, docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor visitante de Cambridge, no Reino Unido, os dados reafirmam os diagnósticos de que o ensino de matemática tem falhas.

“Essas deficiências acarretam impactos econômicos e sociais”, diz ele. “Uma sociedade que sabe pouco de matemática é pouco competitiva, como mostra a comparação internacional. Também mexe muito com a sobrevivência das pessoas, porque define o que você compra, se fará um financiamento”, afirma. Outro resultado do levantamento indica que 69% não sabem fazer contas com taxas de juros.
Pouca prática. O representante de vendas Bruno Singer, 36, diz usar com certa facilidade os conceitos básicos da matemática no trabalho, mas recorre à calculadora nas tarefas mais complexas. “Tenho a impressão de que muito do que estudei na escola eu não uso no dia a dia”, diz ele, formado em administração. O estudo mostra que 89% das pessoas dizem que nem sequer usam a matemática no dia a dia.
Coordenador-geral da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), Claudio Landim diz perceber uma lacuna na formação dos professores, mas é mais otimista com as novas gerações.
“Nós vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico e a matemática está por trás dos programas, do aplicativo de celular. Isso tem despertado interesse cada vez maior”, diz ele, que é diretor adjunto do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). “Há uma melhora, mas não será da noite para o dia”.
Levantamento
EstudoFoi encomendado pelo Instituto Círculo da Matemática do Brasil, iniciativa da TIM, e 2.632 pessoas foram ouvidas, com idade média de pouco mais de 40 anos. A amostra não foi organizada por renda, mas pelo número médio de anos de estudo, que ficou em torno de 8,3 anos de escolaridade.
Disciplina é a mais detestada na escola

São Paulo. 
Há diferenças quando se olha para quem estudou mais ou menos. Enquanto 28% dos adultos com mais de 15 anos de estudo não sabem fazer regra de três, o índice é de 71% entre quem tem até oito anos de escola.

No geral, 60% das pessoas tinham matemática entre as disciplinas que não gostavam na escola. Para Katia Stocco Smole, diretora do grupo Mathema, de formação e pesquisa em ensino de matemática, o dado não surpreende, “mas incomoda bastante”. “As pessoas não gostam porque nunca fez sentido para elas. A escola não ensinou a entender o sentido desses conceitos básicos”.

Segundo dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2013, apenas 9,3% dos jovens terminam o ensino médio com o nível adequado na disciplina. Além das falhas na escola, a visão das crianças acaba também influenciada pela ojeriza dos adultos.

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