Dos palcos ao trabalho da lavoura, em Noiva de Cordeiro, artista mineira transita entre a cultura e a simplicidade
No palco. Keila Gaga apresentou seu show para mais de 3.000 espectadores na Virada Cultural de Belo Horizonte
Autonomia, coletividade e empoderamento da mulher. Essas são algumas das características mais latentes da comunidade rural de Noiva do Cordeiro, situada no município mineiro de Belo Vale. Atualmente com cerca de 300 habitantes, sendo mais de 200 mulheres, o povoado é conhecido pela resistência feminina e pelo trabalho do campo que, com regras próprias, o mantém de pé. Desde 2012, porém, Noiva do Cordeiro também é sinônimo de Keila Gaga – cover de Lady Gaga que foi ovacionada por mais de 3.000 espectadores na última edição da Virada Cultural de Belo Horizonte.
Keila Fernandes, 29, é a caçula de 12 irmãos, todos filhos de Delina, a matriarca da comunidade. Ela divide o casarão da mãe com mais de 80 pessoas, todos familiares, que se desdobram coletivamente em diversos serviços para manter e fazer progredir a comunidade. A praia de Keila é a lavoura, onde planta e colhe legumes que servem como alimento para a comunidade e também são vendidos ao Ceasa. Mais recentemente, ela começou a atuar também como tratorista.
“Plantamos pimentão, abobrinha, beringela. Antes, era apenas para sobreviver, mas, de um tempo pra cá, começamos a vender. Isso aumentou a renda da comunidade, hoje temos uma vida melhor que há alguns anos”, conta Keila. “Fazemos tudo juntos, sempre com muito amor, com muito companheirismo. Isso é reflexo do que aprendemos com a minha mãe, que é uma mulher especial e iluminada. Ela sempre nos ensinou com atitudes, não com palavras, que fazer o bem para o outro é bom pra gente”, reflete.
Em 2006, a comunidade, enfim, conheceu a internet, que causou transformações positivas na rotina de seus habitantes. A mais impactada, sem dúvidas, foi Keila. Foi através da rede que ela conheceu a música e a estética da norte-americana Lady Gaga, um amor à primeira vista. “Vi os clipes dela e me encantei logo de cara. Gostei do visual, do marketing, da coisa dela lutar contra o preconceito, contra as regras e pela liberdade das pessoas”, afirma. “Acho que me identifiquei tanto porque, assim como ela, eu sou livre. Não tenho medo da opinião das pessoas, do que elas vão pensar, se vão gostar de mim ou não. Em Noiva do Cordeiro somos assim. Aqui, ninguém vai te julgar, te apontar o dedo. Talvez por isso ela tenha crescido tanto na comunidade”, reflete.
Foi em Noiva do Cordeiro que Keila Fernandes se transformou em Keila Gaga pela primeira vez. “Aqui, a gente faz a ‘sexta da viola’. Nos encontramos para bater papo, cantar, trocar experiências. E sempre um apresenta alguma coisa. Numa dessas, eu fiz o cover de Lady Gaga e o pessoal gostou muito”, conta Keila, cuja semelhança com Gaga já era apontada pelos familiares. “Todos me apoiaram muito, principalmente minha mãe, que conheceu a Lady Gaga por minha causa. Hoje, ela adora”, completa.
Em 2012, pouco tempo depois da apresentação intimista para os parentes, Keila foi convidada para fazer shows em BH e em São Paulo. Mais que uma experiência de palco inédita, foi a primeira vez que a jovem mineira conheceu a cidade grande. “Já tinha saído da comunidade para ir ao médico e voltar. Mas essa foi a primeira vez que conheci outras cidades, mesmo”, revela, comentando um pouco sobre sua visão da vida urbana. “Fiquei muito assustada. Achei a vida na cidade mais difícil. Mais perigosa, mais violenta, mais solitária. Aqui, todo mundo faz tudo junto, se ajuda, se ama. Na cidade, parece que a gente está sozinho sempre”, defende. “E as pessoas são muito estressadas, sabe. Não conversam direito, são muito competitivas, estão sempre com pressa. Aqui, a gente trabalha muito, mas as coisas não são aceleradas assim. Sabemos que o mundo não vai acabar amanhã. É quase como dois universos diferentes”, crava.
Alguns shows depois, Keila viu o ápice de seu trabalho musical na Virada Cultural de BH deste ano. Ali, no palco com os 18 bailarinos que a acompanham (todos moradores da comunidade), percebeu o potencial de sua persona artística. “Vi que as pessoas gostaram muito, e pensei: ‘Porque não pode dar certo?’”, conta, pontuando que espera vender mais shows e circular o Brasil – mas sem sair de seu habitat. “Eu amo viver em Noiva do Cordeiro, não penso em morar em outro lugar. Quero que dê certo porque vai ser uma realização para os bailarinos, que não precisarão trabalhar mais tanto no sol”, diz. “O que eu faço é lutar por uma vida melhor para todos. Só para mim, não tem graça”.
Keila Fernandes, 29, é a caçula de 12 irmãos, todos filhos de Delina, a matriarca da comunidade. Ela divide o casarão da mãe com mais de 80 pessoas, todos familiares, que se desdobram coletivamente em diversos serviços para manter e fazer progredir a comunidade. A praia de Keila é a lavoura, onde planta e colhe legumes que servem como alimento para a comunidade e também são vendidos ao Ceasa. Mais recentemente, ela começou a atuar também como tratorista.
“Plantamos pimentão, abobrinha, beringela. Antes, era apenas para sobreviver, mas, de um tempo pra cá, começamos a vender. Isso aumentou a renda da comunidade, hoje temos uma vida melhor que há alguns anos”, conta Keila. “Fazemos tudo juntos, sempre com muito amor, com muito companheirismo. Isso é reflexo do que aprendemos com a minha mãe, que é uma mulher especial e iluminada. Ela sempre nos ensinou com atitudes, não com palavras, que fazer o bem para o outro é bom pra gente”, reflete.
Em 2006, a comunidade, enfim, conheceu a internet, que causou transformações positivas na rotina de seus habitantes. A mais impactada, sem dúvidas, foi Keila. Foi através da rede que ela conheceu a música e a estética da norte-americana Lady Gaga, um amor à primeira vista. “Vi os clipes dela e me encantei logo de cara. Gostei do visual, do marketing, da coisa dela lutar contra o preconceito, contra as regras e pela liberdade das pessoas”, afirma. “Acho que me identifiquei tanto porque, assim como ela, eu sou livre. Não tenho medo da opinião das pessoas, do que elas vão pensar, se vão gostar de mim ou não. Em Noiva do Cordeiro somos assim. Aqui, ninguém vai te julgar, te apontar o dedo. Talvez por isso ela tenha crescido tanto na comunidade”, reflete.
Foi em Noiva do Cordeiro que Keila Fernandes se transformou em Keila Gaga pela primeira vez. “Aqui, a gente faz a ‘sexta da viola’. Nos encontramos para bater papo, cantar, trocar experiências. E sempre um apresenta alguma coisa. Numa dessas, eu fiz o cover de Lady Gaga e o pessoal gostou muito”, conta Keila, cuja semelhança com Gaga já era apontada pelos familiares. “Todos me apoiaram muito, principalmente minha mãe, que conheceu a Lady Gaga por minha causa. Hoje, ela adora”, completa.
Em 2012, pouco tempo depois da apresentação intimista para os parentes, Keila foi convidada para fazer shows em BH e em São Paulo. Mais que uma experiência de palco inédita, foi a primeira vez que a jovem mineira conheceu a cidade grande. “Já tinha saído da comunidade para ir ao médico e voltar. Mas essa foi a primeira vez que conheci outras cidades, mesmo”, revela, comentando um pouco sobre sua visão da vida urbana. “Fiquei muito assustada. Achei a vida na cidade mais difícil. Mais perigosa, mais violenta, mais solitária. Aqui, todo mundo faz tudo junto, se ajuda, se ama. Na cidade, parece que a gente está sozinho sempre”, defende. “E as pessoas são muito estressadas, sabe. Não conversam direito, são muito competitivas, estão sempre com pressa. Aqui, a gente trabalha muito, mas as coisas não são aceleradas assim. Sabemos que o mundo não vai acabar amanhã. É quase como dois universos diferentes”, crava.
Alguns shows depois, Keila viu o ápice de seu trabalho musical na Virada Cultural de BH deste ano. Ali, no palco com os 18 bailarinos que a acompanham (todos moradores da comunidade), percebeu o potencial de sua persona artística. “Vi que as pessoas gostaram muito, e pensei: ‘Porque não pode dar certo?’”, conta, pontuando que espera vender mais shows e circular o Brasil – mas sem sair de seu habitat. “Eu amo viver em Noiva do Cordeiro, não penso em morar em outro lugar. Quero que dê certo porque vai ser uma realização para os bailarinos, que não precisarão trabalhar mais tanto no sol”, diz. “O que eu faço é lutar por uma vida melhor para todos. Só para mim, não tem graça”.
‘Felicidade não é ser melhor ou ter mais que o outro’
Para nós, urbanóides, acostumados à ansiedade das megalópoles, as falas de Keila Gaga são como verdadeiros tapas de realidade. “As pessoas da cidade parecem escravas dessa vida corrida. Buscam sempre ser melhor, mais bonitos, mais inteligentes do que o outro. E querem ter mais e mais”, critica. “É claro que eu quero ter um bom telefone, um colchão confortável, um ventilador para o calor. Mas isso não está em primeiro lugar na minha vida. É consequência, não é prioridade. Felicidade não é ter mais ou ser melhor que o outro”, crava a artista, que divide seu tempo entre os palcos e o trabalho na lavoura, na comunidade rural de Noiva do Cordeiro.
Keila conta que, onde vai, seus familiares vão atrás. “É sempre legal quando tem show, porque a comunidade toda vai. Na Virada Cultural, foram mais de 200 pessoas. Dois ônibus cheios”, relembra. “Eu vi as carinhas de todos ali, do palco, e fiquei muito emocionada. Por isso que o amor, sim, é tudo na vida. Ele é a razão da felicidade. Quando você ama e é amado, pode acreditar, pode sonhar. Pode tudo”, defende. “E por isso também que eu gosto tanto de morar em Noiva do Cordeiro. Aqui, a gente vive tranquilo. O amor que temos uns pelos outros, e também pelas plantas, ajuda a encarar a dificuldade de trabalhar no sol”, pontua, contando que, em tempos de verão precoce, o trabalho na lavoura tem começado às 5h, para acabar antes do castigante sol de meio-dia. “Cuidar da horta não é fácil, mas fazemos com gosto, porque é para nós mesmos. Não temos chefes. Cuidamos uns dos outros”, assinala.
De fato, a cooperação, principalmente entre as mulheres, foi crucial para que Noiva do Cordeiro pudesse resistir e progredir socialmente. A história da comunidade começa em 1890, quando Maria Senhorinha de Lima tomou uma decisão que à época era inaceitável para os padrões patriarcais. Três meses depois do casamento arranjado com o francês Arthur Pierre, ela abandonou o marido para viver com seu grande amor, Francisco Augusto Fernandes de Araújo, conhecido como Chico Fernandes. A separação gerou revolta da Igreja Católica de Belo Vale, que excomungou o casal e os membros da família, até a quarta geração. Por décadas, as mulheres da comunidade viveram sob o estigma de prostitutas, que gerou um cruel isolamento social.
Neta de Maria Senhorinha e mãe de Keila, Delina Fernandes também foi afetada pelas injustiças do patriarcado. Aos 16 anos, casou-se com o pastor Anísio Pereira, à época com 43, que conheceu a comunidade em um trabalho de evangelização na região. Ali, Anísio fundou a Igreja Evangélica Noiva do Cordeiro, que passou a ser nome da comunidade. O isolamento, porém, se manteve ainda mais intenso que em gerações passadas, estimulado pelas regras intransigentes impostas pelo pastor, que veio a falecer em 1995. Da década de 90 em diante, Noiva do Cordeiro reestruturou-se com o empoderamento de suas mulheres, que hoje cuidam dos trabalhos rurais e se apoiam mutuamente.
A religião, inclusive, foi um dos fatores totalmente ressignificados pelas novas gerações de habitantes da comunidade. Hoje, Noiva do Cordeiro não tem igreja, capela ou religião dominante. E Keila explica o porquê: “Não precisamos buscar nenhum religião para estar com Deus. Deus é a gente”, reflete. “Hoje, preferimos viver sem as regras de uma religião. Não precisamos de uma igreja ou de um pastor para viver com Deus. Precisamos só de nós mesmos, de ter um bom coração, de dar e receber amor. Deus está no coração da gente, mais que em qualquer religião”, finaliza.
De fato, a cooperação, principalmente entre as mulheres, foi crucial para que Noiva do Cordeiro pudesse resistir e progredir socialmente. A história da comunidade começa em 1890, quando Maria Senhorinha de Lima tomou uma decisão que à época era inaceitável para os padrões patriarcais. Três meses depois do casamento arranjado com o francês Arthur Pierre, ela abandonou o marido para viver com seu grande amor, Francisco Augusto Fernandes de Araújo, conhecido como Chico Fernandes. A separação gerou revolta da Igreja Católica de Belo Vale, que excomungou o casal e os membros da família, até a quarta geração. Por décadas, as mulheres da comunidade viveram sob o estigma de prostitutas, que gerou um cruel isolamento social.
Neta de Maria Senhorinha e mãe de Keila, Delina Fernandes também foi afetada pelas injustiças do patriarcado. Aos 16 anos, casou-se com o pastor Anísio Pereira, à época com 43, que conheceu a comunidade em um trabalho de evangelização na região. Ali, Anísio fundou a Igreja Evangélica Noiva do Cordeiro, que passou a ser nome da comunidade. O isolamento, porém, se manteve ainda mais intenso que em gerações passadas, estimulado pelas regras intransigentes impostas pelo pastor, que veio a falecer em 1995. Da década de 90 em diante, Noiva do Cordeiro reestruturou-se com o empoderamento de suas mulheres, que hoje cuidam dos trabalhos rurais e se apoiam mutuamente.
A religião, inclusive, foi um dos fatores totalmente ressignificados pelas novas gerações de habitantes da comunidade. Hoje, Noiva do Cordeiro não tem igreja, capela ou religião dominante. E Keila explica o porquê: “Não precisamos buscar nenhum religião para estar com Deus. Deus é a gente”, reflete. “Hoje, preferimos viver sem as regras de uma religião. Não precisamos de uma igreja ou de um pastor para viver com Deus. Precisamos só de nós mesmos, de ter um bom coração, de dar e receber amor. Deus está no coração da gente, mais que em qualquer religião”, finaliza.
No campo. Na comunidade rural de Noiva do Cordeiro, Keila trabalha na lavoura
Um comentário:
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