sexta-feira, outubro 30, 2015

Conheça as obras da Fuvest

Professora do Poliedro explica o que o aluno não pode deixar de estudar em alguns dos livros obrigatórios da Fuvest




a professora de literatura Rosana Sol, do curso Poliedro,  listou os pontos mais importantes de algumas das obras obrigatórias da Fuvest e deu dicas imperdíveis para quem vai prestar o exame.

Segundo a professora, o aluno não pode deixar de perceber que Viagens na Minha Terra é um livro híbrido, pois, além de um relato de viagens, existe uma trama romanesca e também uma reflexão por parte do escritor, que também era um político da época, sobre a realidade portuguesa.

Além disso, Rosana salienta a importância de perceber a conectividade entre as obras. “O livro propõe uma solução para Portugal, que é a mesma solução que Eça de Queirós está tentando projetar em A Cidade e as Serras. Então, é importante que o estudante perceba que toda a teoria digressiva de Garret será colocado em prática por Eça de Queirós em sua obra”, explica.

O problema apontado pelos dois autores está relacionado a uma mudança nos costumes portugueses, que está fazendo com que o país perca seus valores, sua tradição e seus ideais. A solução, segundo a professora do Poliedro, está na junção do materialismo, intimamente ligado ao liberalismo, com o espiritualismo, que são os valores morais e culturais.

Quanto ao estilo, há um diálogo da obra com Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. “É bom o aluno ler com muito cuidado o prólogo deste livro, pois o narrador questiona e critica a sua própria forma de escrever, estilo que já tinha sido usado por Garret ”, adverte.

Resumindo, a professora diz que o aluno precisa perceber que, em matéria de ideias, a obra conversa com A Cidade e as Serras. Já em termos de estilo, como metalinguagem, digressão, ironia e pessimismo, existem pontos em comum entre Garret e Machado.

Segundo Rosana, hoje em dia, os vestibulares costumam cobrar as relações entre as obras obrigatórias. “Nesse caso, é possível fazer um link com outras obras da lista, no que tange a exclusão social. Em Til, existem diversos excluídos socialmente, como João Fera, que vive no mundo do crime, a Berta, que não foi reconhecida pelo pai, o Brás, que representa as pessoas com necessidades especiais, Zana que é uma escrava e também tem surtos psicóticos”, cometa.

Se o estudante prestar atenção, existem elementos que marcam esse tipo de exclusão social, também, em Capitães da Areia, com os meninos de rua. Há também uma ponte com Vidas Secas, onde os personagens não conseguem dominar a linguagem e são marginalizados.
“Nesta obra, o aluno precisa perceber que o menos importante são os acontecimentos. O que há de mais importante, por outro lado, é análise dos personagens e o desnudamento da miséria humana, que são os focos de Machado de Assis”, afirma.

Na parte de estilo, como já foi dito anteriormente, há uma ligação com Viagens na Minha Terra, de Garret.
“Os alunos precisam prestar atenção no caráter experimental do livro”, alerta a professora. Segundo ela, como o autor leva muito a sério a teoria do naturalismo, ele faz da obra um grande laboratório, colocando em pauta as teorias científicas da época, como o determinismo, naturalismo e o evolucionismo.

“Existem elementos que reforçam o naturalismo, salientando que a lei do mais forte impera nessa sociedade, como é o caso do personagem João Romão. O determinismo é o fator mais incisivo da obra, tanto que o cortiço ganha o papel de maior destaque, transformando-se em um verdadeiro personagem”, comenta.
 “Quando o livro foi publicado, em 1901, sentiu-se que a proposta de Eça era solucionar um problema da sua terra, pois sentia um certo compromisso com isso, por ter passado anos longe dela, cumprindo uma carreira diplomática”, diz Rosana.

A solução para esse problema, segundo ele, seria valorizar as raízes culturais, sem deixar de crescer cientificamente, tecnologicamente e ter um avanço. “Ele está colocando em prática a proposta que Garret lançou anos antes, em 1843”, salienta.

Além disso, é preciso notar que a obra é pós-realista e não tem uma tendência corrosiva como em outras fases do autor. Inclusive, no final do livro, há uma tendência neo-romântica.

Em Vidas Secas, o aluno não pode deixar de pensar no grande foco, que é linguagem, pois era a única ferramenta para acabar com a miséria dos personagens.

Segundo a professora, “no final do livro, existe a possibilidade de todos irem para o ‘sul’, que na verdade é o sudeste, para que os meninos estudem, na tentativa de dar uma solução ao problema da família”.

Apesar de serem inteligentes, o fato de os personagens não conseguirem se comunicar faz com que fiquem marginalizados, como os personagens de outras obras da lista. Essa percepção só acontece por conta do discurso indireto livre utilizado pelo autor, justamente, para que o leitor consiga penetrar na mente dos personagens, sem precisar da linguagem.

Capitães da Areia tem ponto comum com Vidas Secas, mas há também uma vertente neo-naturalista, mostrando os instintos dos meninos, que é uma tendência em Jorge Armado”, analisa Rosana.

A tendência ideológica do autor é bastante presente na obra, por meio da defesa do socialismo e da necessidade de uma revolução, de uma luta de classes.

“Em Sentimento do Mundo, é interessante o aluno notar que o livro pertence a uma segunda faceta do Drummond, que é de poesia social engajada e participativa. Ao mesmo tempo, ele dialoga com sua primeira faceta, que é individualista, ou, como o autor denominava, uma faceta Gauche”, explica a professora do Poliedro.

Em alguns versos, há poesia retificadora, na qual ele mostra ao leitor sua nova conduta e a tomada de consciência. Por isso, é preciso que o aluno entenda a primeira fase do poeta.

Dicas de livros para estudantes
Para a professora, embora haja pouco tempo para ler livros que não sejam da leitura obrigatória, existem obras que precisam ser lidas por todos os estudantes, em qualquer idade.

“Eu recomendo a todos os alunos a leitura de Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Márquez, pois é um livro mágico, e também de Dois Irmãos, de Milton Hatoum, que, para mim, é o Machado de Assis do século XXI”. Finaliza Rosana.

  • Fonte: Universia Brasil - Laís Chaves

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